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    Crítica: Ególatra, Xavier Dolan exagera na histeria

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    11/12/2014 02h34

    "Fiquei desorientado de gratidão com o reconhecimento do júri, e o tanto de amor que recebi ao longo da última semana me convence da verdade: faço cinema para amar e ser amado."

    A declaração acima do cineasta canadense Xavier Dolan, 25, ao receber o prêmio do júri no último Festival de Cannes por "Mommy" (2014), reflete a mesma combinação de emoção calculada e ego descontrolado de seus filmes.

    Dolan é mais um caso de jovem talentoso proclamado autor antes mesmo de construir uma obra. O fato de ter estreado aos 20 anos, em 2009, e de todos os seus cinco longas terem sido selecionados por festivais de primeira grandeza, como Cannes e Veneza, validou admirações.

    Divulgação
    A atriz Anne Dorval, em cena do filme 'Mommy', dirigido por Xavier Dolan
    A atriz Anne Dorval, em cena do filme 'Mommy', dirigido por Xavier Dolan

    Com seus três primeiros filmes, "Eu Matei a Minha Mãe" (2009), "Amores Imaginários" (2010) e "Laurence Anyways" (2012), o jovem cineasta soube cultivar o público sedento de novidades com um perfume de escândalo combinado com um olhar gay numa estética de excessos –muita gente viu semelhanças com o primeiro Pedro Almodóvar.

    Em "Mommy", ele retoma a relação de amor e ódio entre mãe e filho de seu longa de estreia. O tratamento mais sóbrio do tema misturado à apresentação diferenciada convenceram o júri de Cannes e a quase unanimidade da crítica de que Dolan teria superado sua adolescência estética.

    No centro do filme, três personalidades desajustadas ou inadequadas ilustram a ideia de marginalidade.

    O adolescente Steve é expulso por atear fogo na escola e queimar um colega. Diane, sua mãe, expressa, desde o apelido, Die (morra, em português), a atitude "quero que tudo vá para o inferno". Kyla, vizinha que se junta à dupla disfuncional, é uma professora que sofre de afasia, sintoma de sua inadequação ao casamento quadrado.

    EXCESSOS

    Dolan filma os embates com energia, mas não pensa duas vezes antes de sobrecarregar a intensidade dos desempenhos, o que converte o resultado em muita histeria.

    Sua necessidade de ilustrar cenas de sentimentos com canções ultrapop é procedimento que, se em novela soa cafona, no cinema junta redundância a esse artifício.

    Por fim, pode parecer inovador o uso do formato quadrado da janela do filme, apesar de o procedimento ser o mesmo adotado no pouco visto filme brasileiro "O Homem das Multidões" (2013), de Marcelo Gomes e Cao Guimarães.

    Mesmo que haja originalidade na escolha, Dolan nunca resiste à reiteração. Quando encena movimentos de liberação, por exemplo, ele abre o quadro para que isso seja interpretado como liberação.

    Por estas e outras, a visão de "Mommy" impede o espectador atento de acreditar que Xavier Dolan já é mais do que apenas um diretor mimado.

    MOMMY
    DIREÇÃO Xavier Dolan
    ELENCO Anne Dorval, Antoine-Olivier Pilon, Suzanne Clément
    PRODUÇÃO Canadá, 2014, 16 anos
    AVALIAÇÃO regular

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