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    Novo curador da Bienal quer 'ver o mundo a partir do sul'

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    11/12/2014 02h10

    Jochen Volz, o curador da próxima Bienal de São Paulo, é um sujeito delicado. Não gosta de pronunciamentos bombásticos, fala baixo e evita chamar a atenção. É um gentleman num mundo da arte cada vez mais histérico.

    Um dos curadores do Instituto Inhotim, o museu do magnata do minério Bernardo Paz no interior de Minas Gerais, e diretor de programação da Serpentine, em Londres, o alemão já esteve à frente da Bienal de Veneza e ajudou a organizar a 27ª Bienal de São Paulo, há oito anos.

    Sua escolha para comandar a mostra paulistana, a segunda mais tradicional do mundo, só atrás de Veneza, acaba de ser definida e já desencadeou uma onda de especulações sobre o que deve fazer.

    Divulgação
    O curador alemão Jochen Volz, que estará à frente da próxima Bienal de São Paulo
    O curador alemão Jochen Volz, que estará à frente da próxima Bienal de São Paulo

    "Minha ideia de exposição sempre tem o envolvimento bem forte do artista", diz Volz, 43, em entrevista à Folha. "Criamos projetos a partir de conversas. É isso que pode ser esperado. Tenho uma crença forte nas obras de arte."

    De fato, ele está acostumado a ver obras surgirem passo a passo. Viu cada detalhe da construção das instalações do dinamarquês Olafur Eliasson, que fez uma série de mostras em São Paulo há três anos, e ajudou a implantar muitos dos pavilhões de Inhotim, transformando o pasto numa espécie de Disneylândia delirante da arte contemporânea.

    "Mas não é uma questão de escala", diz. "É dar mais importância à voz do artista."

    Seu interesse parece estar mesmo na construção, não na natureza espetacular de alguns trabalhos. Talvez por isso trabalhe muito com artistas que transformam o espaço com obras de pegada arquitetônica, como as de Renata Lucas, Sara Ramo, Marcius Galan, Rivane Neuenschwander e Cildo Meireles.

    Esses dois últimos, aliás, inauguraram o longo namoro de Volz com o Brasil –ele levou obras deles a Frankfurt, quando dirigia um museu na cidade há dez anos, e depois veio viver no país, onde se casou com Neuenschwander.

    "Não sou brasileiro, mas a parte mais importante da minha formação aconteceu aqui", diz Volz, que hoje vive entre Londres e Belo Horizonte. "Sinto que a minha casa como profissional é o Brasil."

    EQUILÍBRIO

    Mesmo com os pés firmes no país, o trânsito internacional de Volz, respeitado no circuito global, é estratégico para a Bienal de São Paulo, que agora tenta encontrar um equilíbrio entre projetos de estrangeiros ao mesmo tempo em que pretende voltar a ser a maior vitrine da arte contemporânea brasileira.

    Depois de duas edições criadas por nomes de fora, o britânico Charles Esche e o venezuelano Luis Pérez-Oramas, a escolha de Volz agrada tanto os que querem a volta de um curador mais em sintonia com o Brasil e os que almejam maior impacto global para a Bienal de São Paulo.

    "Essa é a maior bienal do sul do mundo, tem uma relevância geopolítica", diz Volz. "É diferente olhar para o mundo daqui do que olhar a partir de Veneza. Tem a possibilidade de criar diálogos entre artistas do mundo todo com um olhar do sul."

    Volz também sabe que terá de reforçar o diálogo com o público da Bienal, que vem caindo nos últimos anos. A última edição, encerrada na semana passada, teve 472 mil visitantes, uma queda de 9% em relação à edição de 2012, que levou 520 mil ao Ibirapuera.

    "É interessante achar maneiras de fazer uma exposição falar com todo mundo", diz Volz. "Isso tem a ver com uma abertura maior, convocar energias que surpreendam."

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