Menos careta que seu primo Emmy, o Globo de Ouro, premiação na qual votam os jornalistas estrangeiros em Hollywood, sacudiu a categoria de melhor série cômica neste ano ao reunir três novidades transgressoras e duas produções consagradas porém nada tradicionais.

A temporada foi mais fraca para comédias, é verdade, mas fazia tempo que o gênero não passava por tamanha renovação, com as repetitivas "Big Bang Theory" e "Modern Family" finalmente postas de lado.

"Transparent", a mais inovadora delas, conta os desajustes de uma família cujo pai (Jeffrey Tambor, de "Arrested Development") se assume transgênero. A ousadia não é só do tema: trata-se de uma ofensiva da gigante do varejo on-line Amazon na produção de conteúdo, filmada só após ter o episódio piloto aprovado em votação no site.

A ácida e despretensiosa "Silicon Valley", com sua trupe de nerds que monta uma start-up e tenta fazê-la perseverar, é o que há de mais engraçado na TV, e "Jane the Virgin" é uma bem-vinda subversão das "telenovelas".
Os dois repetecos (a boa "Orange is the New Black" e "Girls", ambas sobre garotas bem nascidas e mal ajustadas)tampouco pecam por falta de audácia.

No drama, a surpresa é a excelente "The Affair", indicada ainda a Melhor Ator e Melhor Atriz (Ruth Wilson e Dominic West como o par central, ela bem melhor que ele).

A série de Hagai Levi ("In Treatment") e Sarah Treem dá um nó no arco narrativo, indo e vindo no tempo e nos pontos de vista do casal, ao abordar o que é possivelmente o tema mais surrado do mundo – um caso extraconjugal.

As demais contempladas ("Downton Abbey", "The Good Wife", "House of Cards" e "Game of Thrones") são ótimas, mas já estiveram na lista em outras temporadas.

Briga de foice haverá na categoria de Melhor Minissérie: "Olive Kitteridge", "Fargo" e "True Detective" são coisa finíssima e merecem estar em qualquer lista de melhores produtos culturais do ano. Completam essa lista "The Missing" e "The Normal Heart", já aclamadas pela crítica americana.