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    Galerias high-tech levam a passeio por origens do país

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    12/12/2014 02h05

    Brancas do chão ao teto, as novas galerias do Itaú Cultural têm um ar de laboratório asséptico e high-tech, contrastando com a alta voltagem das obras de arte e documentos históricos que abrigam.

    É estranha a sensação de ver passaportes de escravos e imagens de ritos canibais nessa espécie de nave espacial, mas talvez a intenção da mostra seja mesmo escancarar a história do país num contexto neutro, de tábula rasa.

    "É uma volta às nossas origens", diz o curador Pedro Corrêa do Lago, que ajudou a construir a coleção. "Essa arte foi por muito tempo relegada a um gueto documental muito chato, mas é uma arte plena."

    Edouard Fraipont/Divulgação
    Imagem de pássaro de J. T. Descourtilz, obra do século 19
    Imagem de pássaro de J. T. Descourtilz, obra do século 19

    Tanto que já invade a produção contemporânea com fôlego inusitado. A mostra "Histórias Mestiças", organizada por Adriano Pedrosa e Lilia Moritz Schwarcz no Instituto Tomie Ohtake em agosto deste ano, contrastou raras imagens históricas com peças de artistas como Adriana Varejão e Beatriz Milhazes.

    Índios e escravos em imagens mais ou menos exageradas, carregadas de um exotismo para seduzir olhos europeus, vêm se tornando alvos de releituras críticas –obras que denunciam como muito disso foi parar debaixo do tapete da iconografia nacional.

    Muitas das obras expostas agora no centro cultural da avenida Paulista, aliás, foram vítimas de certo descaso.

    Uma delas é uma tela de 1829 do francês Jean-Baptiste Debret, que retrata o casamento de dom Pedro 1º. O quadro estava perdido e só foi redescoberto há sete anos, por acaso, num antiquário espanhol.

    Corrêa do Lago conta que uma pesquisadora conhecia o esboço da tela, que já estava na coleção do banco, e desconfiou que aquilo poderia ser um Debret, embora a assinatura fosse de um artista espanhol popular na época. Ela comprou a tela e trouxe ao Brasil, onde pesquisadores provaram sua autenticidade.

    "Tinham assinado um nome que achavam que valia mais", diz o curador. "Mas aquilo lá saiu na primeira lavagem durante o restauro."

    Outras imagens da mostra também guardam um passado controverso, como as vistas clandestinas da baía de Guanabara feitas pelo artista britânico Thomas Sydenham em 1795, época em que os portos do país estavam fechados a navios estrangeiros.

    Ou seja, sem atracar na orla, direto do navio, é como se Sydenham tivesse feito uma foto roubada do que na Europa no momento diziam ser um paraíso fantástico.

    Na mesma pegada deslumbrada, duas salas inteiras da mostra exibem uma avalanche de imagens da flora e da fauna do Brasil, pássaros de plumagem lisérgica e bichos como tamanduás, considerados quase extraterrestres por esses artistas viajantes.

    Isso sem contar as liberdades poéticas de europeus que retrataram o país a partir de relatos dos exploradores, daí a brutalidade de certos rituais comandados por índios de "barriga tanquinho" e adornos inusitados. (silas martí)

    COLEÇÃO BRASILIANA ITAÚ
    QUANDO abre neste sábado (13), às 11h; de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h
    ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1776
    QUANTO grátis

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