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    Pioneiro da tipografia digital diz que restrição impede trabalho de ser arte

    MARCIO FREITAS
    DE SÃO PAULO
    ANDREA KULPAS
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/12/2014 02h00

    Tipografia está nas placas de rua, nas bancas de jornais, na TV, no cinema, nos livros, na internet e nos celulares. Por toda parte encontramos letras que nos informam de temas variados. Ainda assim, pouco as notamos e menos ainda pensamos em quem as criou. Mas precisamos mesmo pensar sobre isso?

    Segundo o designer de tipografia Matthew Carter, 77, não. "Autores querem passar um significado, leitores querem entender o que está sendo dito. Se percebem a tipografia, geralmente é porque existe um problema", afirma Carter.

    O designer inglês que vive nos Estados Unidos é autor de tipografias que fazem parte do dia a dia de grande parte das pessoas. Se você usa computador, provavelmente já leu ou escreveu com as fontes Verdana (usada excepcionalmente no logotipo dessa página) ou Georgia (o "a" enorme aí no meio do texto). Se está lendo no site ou no aplicativo da Folha, está usando a Georgia.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    O inglês Matthew Carter, designer de tipografia, na av. Paulista, em São Paulo
    O inglês Matthew Carter, designer de tipografia, na av. Paulista, em São Paulo

    Pioneiro na criação de fontes digitais, Carter concebeu a primeira distribuidora de tipografia digital em 1981, a Bitstream, e desenhou tanto a Verdana como a Georgia para a Microsoft nos anos 90. Foram umas das primeiras fontes pensadas especificamente para uso em tela.

    Em sua primeira visita ao Brasil, o designer faria uma palestra nesta sexta (12), após a conclusão desta edição, no Dia Tipo, encontro de tipografia que vai até este sábado na Faap (r. Alagoas, 903, S. Paulo), com ingressos esgotados.

    O encontro ocorre todo ano, normalmente em dezembro, e reúne palestras e workshops para um público de apaixonados por tipografia.

    Além de tipos para tela, Carter já criou fontes para jornais, listas telefônicas, marcas de empresas, em todas as tecnologias possíveis: de metal (a técnica usada por Gutenberg em 1470), até toda sorte de tipos digitais.

    TIPO ARTE

    Apesar de não entender tipografia como arte, mas como design industrial que tem que respeitar uma série de restrições funcionais, desde 2011 seis dos trabalhos de Carter fazem parte do Departamento de Arquitetura e Design do MoMa, em Nova Yorque (veja a lista ao lado). "Fiquei muito lisonjeado, foi um bom momento pra mim. Mas não é o mesmo que ter uma pintura ou escultura no MoMa. É um departamento completamente diferente", diz.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Carter é um tipo amável, que gosta de jazz e torce pelo Arsenal, de Londres. Diz não ter hobbies, mas anda sempre com sua câmera fotográfica.

    Foi aceito na Universidade de Oxford, nos anos 1950,para estudar letras, mas não chegou a frequentar o curso. Decidiu que queria aprender desenhar tipos depois de um estágio de um ano em uma casa de impressão na Holanda. Seu pai, que também era tipógrafo, foi o grande incentivador.

    Mas em 1955 não havia formação acadêmica em tipografia. Autodidata, valeu-se da convivência com outros tipógrafos e amigos do seu pai. "Apesar de existirem bons cursos hoje, acredito que todo designer de tipografia é autodidata; na maioria, aprendem sozinhos."

    TIPO NOVO

    Segundo Carter, o que o atrai em sua profissão é a tensão existente entre a restrição que a história impõe sobre a escrita –um alfabeto que deve ser reconhecido como tal– e o desejo de encontrar algo novo. "Eu não posso acordar e dizer ei, vou inventar um novo F, um que ninguém nunca viu antes!".

    Mas para ele nada supera o fato de ver seu trabalho sendo usado pelas pessoas. "Também tem o momento em que você vê seu trabalho aplicado em uma cidade muito, muito longe de onde você mora, como vi em uma placa hoje de manhã aqui em São Paulo. É meio bobo, mas você não deixa de ficar feliz com isso."

    Para Carter, não há caráter pessoal no design de tipos: é a técnica que determina o estilo. "Fiz novas fontes porque a tecnologia não iria reproduzir bem a Helvetica e a Times".

    Editoria de Arte/Folhapress

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