O Rio acaba de virar parte de uma rede mundial envolvendo assassinatos, tráfico de drogas e outros crimes mais ou menos convencionais.

A cidade é o novo cenário de uma série de contos policiais criada em 2004 pela editora independente americana Akashic Books e que hoje abrange mais de 60 cidades de cerca de 30 países.

"Rio Noir", organizada pelo músico e escritor Tony Belloto, sai por aqui pela Casa da Palavra, junto com "USA Noir", organizada pelo músico e editor Johnny Temple.

A edição com contos nacionais inclui veteranos como Luiz Alfredo Garcia-Roza, Luis Fernando Verissimo e o próprio Belloto; nomes que vêm se firmando na literatura policial, como Raphael Montes e Alexandre Fraga; e outros pouco ou nada ligados ao noir, caso de Arnaldo Bloch e Adriana Lisboa –ou sequer à ficção, como o antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares.

Os autores são cariocas ou têm um pé no Rio –neste caso, estão o gaúcho Verissimo, que tem casa na cidade, e os paulistanos Belloto e Marcelo Ferroni, que moram há anos na capital fluminense.

Cada um dos 14 selecionados escolheu um bairro ou uma área (veja acima) para sediar suas tramas. Garcia-Roza, por exemplo, colocou seu personagem, gigolô e aliciador de menores, com negócios na Lapa, enquanto Bloch, num policial bem fora do padrão, mais para fantástico, criou um protagonista obcecado por Jacarepaguá.

	Ilustração Sandro CastelliFolhapress

A série "Noir" da Akashic Books surgiu há dez anos com "Brooklyn Noir", com 14 histórias em diferentes áreas do bairro nova-iorquino. Com a boa recepção, autores celebrados toparam organizar outras edições, como "Boston Noir" (editada por Dennis Lehane) e "New Jersey Noir" (por Joyce Carol Oates).

O projeto então passou a angariar parcerias com casas de outros países, com edições em cidades como Barcelona, Havana, Istambul e Cidade do México. Mais de 800 autores do mundo todo já tiveram contos publicados na série.

A edição "USA Noir", com contos de Lehane, Oates, Michael Connely, Jonathan Safran Foer, Don Wislow e outros, foi organizada a pedido dos parceiros internacionais, com as melhores histórias das dezenas de livros sediados em cidades dos EUA.

"Quando adquirimos os direitos do Rio Noir', perguntamos se não podiam fazer uma edição única dos contos americanos para lançarmos aqui, e disseram que editoras estrangeiras já haviam pedido isso", diz a editora Martha Ribas, da Casa da Palavra.

CORES LOCAIS

As conversas que culminaram em "Rio Noir" foram 'iniciadas em 2013 entre a agência literária Lucia Riff e os editores da Akashic Books. Lucia logo viu similaridades entre o editor americano, Johnny Temple, e seu agenciado Tony Belloto, como conta o organizador brasileiro.

"O Johnny tem uma banda de rock, como eu, e Lucia contou a ele que agenciava um autor de policiais que também é roqueiro. Apesar de eu ser paulista, moro no Rio há mais de 20 anos. Acho que peguei uma cidadania que me permitiu editar o livro", diz.

Belloto esperou os convidados escolherem os bairros de seus contos para selecionar o seu: o Leme, na história de um quarentão que vive às custas de coroas saradas.

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"O Rio é uma cidade mundialmente conhecida também pelos crimes, desde o Ronald Biggs [britânico conhecido como ladrão do século', que viveu na cidade de 1970 a 2001] até o tráfico nas favelas. Fui chamando escritores com esse panorama amplo em mente", diz Belloto.

A Casa da Palavra planeja publicar algumas das edições estrangeiras. "É interessante ver as cores locais dos policiais, cada cidade com suas peculiaridades. No Rio, tem o tráfico. Istambul tem uma questão religiosa forte. Tóquio tem uma coisa da juventude", diz Martha Ribas.

E haverá ainda mais cores locais brasileiras: São Paulo já foi confirmada como a próxima cidade da série.

RIO NOIR
ORGANIZAÇÃO Tony Belloto
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 39,90 (304 págs.)

USA NOIR
ORGANIZAÇÃO Johnny Temple
TRADUÇÃO Débora Guimarães Isidoro
EDITORA Casa da Palavra
QUANTO R$ 59,90 (560 págs.)