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    Violinista causa polêmica ao criticar método de ensino de música

    MICHAEL COOPER
    DO "NEW YORK TIMES"

    20/12/2014 03h00

    Uma troca amarga de acusações irrompeu em uma área normalmente plácida: a das aulas de violino para crianças.

    Tudo começou quando o violinista e compositor americano Mark O'Connor, que alguns anos atrás começou a publicar seus próprios livros de ensino do instrumento, atacou o gigante dessa área: o chamado método Suzuki, conhecido por ensinar multidões de crianças de todo o mundo a tocar variações de "Brilha, Brilha Estrelinha".

    O'Connor não apenas criticou o método como acusou seu criador, Shinichi Suzuki, de ter falsificado partes de sua biografia.

    A Associação Internacional Suzuki reagiu tachando as alegações de "falsas" e deixando a entender que O'Connor estava tentando desacreditar Suzuki, morto em 1998, para promover seus próprios livros.

    Meio milhão de livros do método Suzuki são vendidos por ano, segundo sua editora. Já Mark O'Connor é um virtuose que fez turnês com o violinista de jazz Stéphane Grappelli e gravou com músicos de primeira linha, como Yo-Yo Ma.

    POLÊMICA

    A disputa incendiou a internet. O'Connor começou a fazer suas acusações em longos posts on-line em 2013, mas elas chegaram ao grande público neste ano, depois de ele ter sido citado pelo site "The Telegraph" como tendo acusado Suzuki de inventar sua história de vida. Segundo O'Connor, Suzuki teria sido "uma das maiores fraudes na história da música".

    Isso fez Charles Avsharian, da Shar Music, grande rede varejista que vende os dois métodos, a pedir publicamente a O'Connor que pusesse fim às hostilidades.

    O violinista explicou os objetivos de seu próprio método de ensino do violino, que ele descreve como "um método americano de tocar instrumentos de corda", e falou em inspirar uma nova geração de instrumentistas.

    As acusações principais de O'Connor dizem respeito a vários episódios descritos por Suzuki em seu livro "Nurtured by Love", em parte livro de memórias e em parte um ensaio sobre seu método de ensino do violino.

    O'Connor questionou a alegação de Suzuki de que teria tido aulas com o violinista alemão Karl Klingler em Berlim nos anos 1920 e que teria feito parte do círculo de Albert Einstein.

    Em seu livro, Suzuki disse que foi aluno particular de Klingler. Uma conhecida de Klingler, a violinista Alice Schoenfeld, confirmou a informação.

    Schoenfeld disse que teve a impressão de que Suzuki foi um aluno "que ia e vinha". "Mas Suzuki estudou com ele, sim, e, quando retornou ao Japão, deu um lindo violino a Klingler a título de agradecimento", recordou.

    "Eu usei esse violino em meus recitais. Portanto, sei com certeza que Suzuki foi orientado por Klingler."

    A relação de Suzuki com Einstein é menos clara. Um capítulo sobre Einstein em seu livro contém um subtítulo que diz, na tradução inglesa, "Dr. Einstein como meu guardião".

    Suzuki não quis dizer que Einstein foi seu guardião em qualquer sentido legal. O que ele escreveu é que, quando era jovem em Berlim, um amigo de sua família, o bioquímico Leonor Michaelis, pediu a Einstein que ficasse de olho nele, para certificar-se de que ele ficasse bem. Suzuki escreveu que assistia a concertos e eventos sociais com Einstein e que se sentiu muito inspirado por ele.

    Vários estudiosos de Einstein disseram que não há indícios de que Suzuki tenha tido um relacionamento estreito ou duradouro com o cientista. Mas há evidências de encontros entre os dois em Berlim.

    Há uma carta que Michaelis escreveu a Einstein perguntando sobre uma visita de Suzuki, uma carta que Einstein escreveu ao pai de Suzuki, agradecendo-o pelo presente de um violino, e um desenho que Einstein autografou com uma dedicatória a Suzuki.

    A disputa deixou algumas pessoas incomodadas. "Mesmo que Mark esteja dizendo a verdade absoluta -e não acredito que esteja-, pergunto: que diferença faz?", disse a professora de violino Rhona R. Reagen, do Illinois, que usa os dois métodos, o de Suzuki e o de O'Connor.

    tradução de PAULO MIGLIACCI

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