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    Artistas resgatam área abandonada na periferia de SP; veja vídeo

    DANILA MOURA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    24/12/2014 02h10

    Ao entrar no parque Raposo Tavares, no extremo oeste de São Paulo, é difícil imaginar que o local foi coberto por entulho na década de 1970.

    Na época, o Lixão da Raposo atraía a população pobre do entorno, que tirava do lixo o sustento, conforme o registro do cineasta João Batista de Andrade no documentário "Restos", de 1975.

    Hoje, cerca de 15 jovens da região ainda exibem as mãos sujas, mas de tinta. Há um ano, o parque abriga a ocupação artística Raiz Libertária, um ateliê coletivo e centro cultural.

    Sem espaço para promover atividades culturais na região, cuja paisagem é marcada por favelas com esgoto a céu aberto, os artistas utilizam até o coreto do parque para realizar oficinas de pintura.

    Após negociar com a administração do parque, o grupo conseguiu o direito de utilizar uma casa abandonada, na entrada do terreno. "Fizemos mutirão para limpeza, reparos e ocupamos", conta o grafiteiro Diego Fagundes, 23.

    Incomodada com os shows, a administração já cogitou retirá-los do local, mas liberou o espaço. Procurada pela Folha, por meio da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente, a administração do parque não quis dar entrevista.

    Coberto por grafites, o Raiz Libertária tem ares de casebre hippie. Uma portinha guarda o quintal cheio de traquitanas coloridas. Há também uma biblioteca de livros doados, ateliê de xilogravura e uma área reservada ao grafite e à serigrafia.

    "Estamos abertos para quem quiser mostrar sua arte e somar, sem distinção", conta Jair Barbosa, 31, o Jhunk.

    Ele salienta que o local promove ações culturais –como atividades para crianças, exposições e oficinas de poesia, teatro e música– sem qualquer apoio financeiro, contando com doações de comerciantes e moradores do bairro.

    As decisões sobre uso do espaço são coletivas. Só são aceitas pessoas consideradas comprometidas com a arte. No início, movimentos sem-teto procuraram o local, mas a ocupação deixou claro que o espaço seria utilizado só para atividades culturais.

    A falta de energia e de água é uma das queixas dos artistas, que, quando escurece, trabalham à luz de velas. A maioria vai para lá no fim da tarde, depois do trabalho.

    Entre as atividades oferecidas pela ocupação, destaca-se a oficina "Arte Para as Comunidades", cuja terceira edição ocorreu no último dia 13.

    A ação reúne artistas para grafitar os muros de casas da periferia e ensinar a técnica para grupos que chegam a 50 pessoas. As latas de tinta vêm de doações de casas de material para construção.

    Os moradores aprovam. "Eles deveriam pintar a rua inteira, fica tudo mais bonito", afirma Gabriela Ricardo, 30 anos, dona de uma das residências grafitadas.

    OUTRO LADO

    Indagada pela reportagem sobre as demandas do coletivo por melhor infraestrutura, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, que administra o parque Raposo Tavares, afirmou que a antiga gestão decidiu implantar a casa de forma experimental para ser um espaço em que artistas locais ofereceriam cursos.

    Coletivo, administração e secretaria estudam um modelo de gestão que estimule a participação da comunidade. O órgão disse ainda que avalia a possibilidade de criar um local apropriado para o grupo, mas não informou detalhes.

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