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    Drama sobre noviça órfã é favorito a Oscar de melhor filme estrangeiro

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    25/12/2014 02h20

    Quando filmou "Ida", o polonês Pawel Pawlikowski, 57, sentia falta de um mundo mais simples. "Com menos palavras, menos cor, menos barulho, menos movimento", diz ele à Folha, por telefone.

    Ao que parece, ele não era o único a pensar assim. Desde que estreou, em 2013, a crítica não poupou elogios ao filme, que chega ao país nesta quinta (25) com status de obra-prima. Nos últimos meses, "Ida" venceu mais de 40 prêmios, está entre os finalistas ao Globo de Ouro e é um dos grandes favoritos ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

    O fato de um filme em preto e branco, ambientado na Polônia soviética dos anos 1960, com pouca movimentação de câmera e longos silêncios conseguir tamanha repercussão surpreendeu até mesmo o próprio Pawlikowski.

    No entanto, ele tem um palpite para explicar o sucesso do longa: o poder de comoção da narrativa sobre busca por identidade da jovem Anna (Agata Trzebuchowska) e de sua tia Wanda (Agata Kulesza).

    Anna é uma noviça órfã de 17 anos, prestes a oficializar seus votos à Igreja. Antes de se tornar freira, a madre superiora exige que ela procure Wanda, sua única parente viva.

    Chegando na casa da tia, a religiosa descobre que seu nome verdadeiro é Ida e que seus pais eram judeus, mortos durante o Holocausto, na Segunda Guerra Mundial.

    Juntas, partem em uma viagem –psicológica e geográfica– pelo interior do país, à procura dos corpos da família.

    ANTISSEMITISMO

    Detalhes sobre as consequências da Segunda Guerra nos costumes do país sob o regime comunista não vão além do pano de fundo histórico. O que importava mesmo ao diretor polonês era a travessia das duas protagonistas, cujo drama fica o tempo todo em evidência.

    "Muitos me perguntavam: É um filme sobre antissemitismo?'. Não. Estou mais preocupado com questões universais, em quão vulneráveis e complicadas as pessoas são."

    Em seu quinto longa de ficção, Pawlikowski tem no currículo importantes prêmios do cinema europeu –incluindo o Bafta por "Meu Amor de Verão" (2004) e "Last Resort" (2000). Mesmo assim, a indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro por "Ida" não deixou de ser inesperada. Ele diz que a seleção da Academia "foi a última coisa" em que pensou enquanto dirigia a produção, diferente daquelas "ligeiramente mais convencionais e comunicativas" que costumam ganhar as estatuetas.

    "Ida' é um tanto hardcore em termos de formato. Então, claro que foi uma surpresa", conta, aos risos. "Eu nem achava que os americanos fossem assistir ao filme, já que é cheio de ambiguidades e não tem nenhuma música."

    A exceção é o jazz, que rompe o silêncio de "Ida". O diretor escolheu "Naima" e "Equinox", canções do saxofonista norte-americano John Coltrane, para retratar as paixões da juventude polonesa.

    JAZZ E LIBERDADE

    "Naquela época, o jazz era sinônimo de liberdade. Banido em todo o bloco comunista durante o período stalinista, foi permitido primeiro na Polônia no fim dos anos 1950. Foi uma explosão", explica.

    A escolha por Coltrane se deu pelas mesmas razões afetivas que guiaram a produção do filme, baseado em grande parte na nostalgia que o diretor sentia da infância.

    "Estou trabalhando nele há dez anos. Acho que, quanto mais velho fico, mais volto no tempo", comenta.

    "Acontece com todo mundo. Mas talvez eu estivesse mais assustado e alienado com o presente", completa.

    Dada a repercussão do filme, seria o enfado com o presente uma sensação geral? "De alguma maneira, sim", responde Pawlikowski.

    "Talvez exista mesmo uma certa saturação com o emocionalismo barato."

    Assista ao trailer de "Ida":

    Ida

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