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    Em livro, cem personalidades escolhem seus discos favoritos

    CADÃO VOLPATO
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    24/12/2014 02h20

    O diretor de programas de TV e músico Zé Antonio Algodoal passou quase 19 anos na MTV. É um caso raro, quase japonês, de fidelidade ao emprego, já que a MTV do Brasil durou apenas 23 anos.

    A paixão pela música e por listas cultivada na MTV e nas guitarras da banda Pin-Ups levou o agora cinquentão a publicar o primeiro livro, um apanhado de músicas e listas chamado "Discoteca Básica".

    Zé Antonio nunca tinha escrito nada, mas partiu da ideia que deveria mover qualquer escritor: simplesmente fez o livro que gostaria de ler.

    Reprodução
    Revolver' foi o disco mais citado
    'Revolver', dos Beatles, foi o disco mais citado

    Partindo do pressuposto de que todos nós temos histórias com músicas, o escritor saiu atrás das personalidades que não só perfilariam os seus discos favoritos, mas também explicariam o motor da paixão.

    "A grande maioria topou de cara", conta. "Dois ou três, não quiseram nem saber. Roger, líder do Ultraje a Rigor, declinou via assessor. Já o apresentador Jô Soares adorou. Só que na hora de justificar suas escolhas, mandou essa: "Quanto aos motivos, só tem um: porque eu gosto... São discos que me motivaram a ouvir mais música. Beijos, Jô."

    A discoteca básica do apresentador vai de The Mamas & The Papas ("If You Can Believe your Eyes and Ears") a "Tropicalia ou Panis et Circenses", passando por Errol Garner ("Contrasts") e Gal Costa ("O Sorriso do Gato de Alice").

    Zé Antonio acabou tendo uma grande surpresa (entre muitas). "Não imaginava tanta MPB". De fato, entre os dez discos mais escolhidos, cinco são brasileiros: "Transa", de longe o trabalho mais vanguardista de Caetano Veloso, vem logo abaixo... dos Beatles ("Revolver"), o mais citado.

    Houve lugar também para Secos & Molhados, com o LP homônimo, Jorge Ben (antes de virar Benjor), com "A Tábua de Esmeralda" (ambos à frente do Nirvana, "Nevermind"), Novos Baianos ("Acabou Chorare") e Os Mutantes, no álbum de 1968 que leva o nome da banda.

    Outra grande surpresa foi o carinho geral por uma década bastante avacalhada no imaginário popular. Os anos 1970, com todo o excesso das megaestrelas do pop, as calças boca-de-sino e as drogas pesadas, dominaram as discotecas básicas. Foi de longe a década mais citada pelas cem personalidades.

    O pelotão, aliás, é dos mais ecumênicos. Vai de Luiz Calanca (o heroico proprietário da Baratos Afins) à apresentadora Luciana Gimenez; de Ritchie (o inglês abrasileirado dos anos 1980) a Mike Watt (atual baixista dos Stooges). É de Watt que vem um dos comentários mais sucintos e divertidos das listas, a respeito de "Fun House", o disco dos Stooges lançado em 1970: "1970? Poderia ter sido gravado na semana que vem".

    Se todos fossem iguais a ele, algumas bobagens mais longas teriam sido evitadas. No geral, a impressão que fica é mais ou menos algo como "Dize-me o que ouves e te direi quem és".

    Discoteca Básica
    Zé Antonio Algodoal
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    No caso do chef Alex Atala, por exemplo, as preferências punk (de alguém que tem o maior carinho por ter trabalhado no famoso Rose Bom Bom dos anos 1980) foram plenamente justificadas. Atala, por sinal, conta histórias engraçadas sobre seus encontros com Iggy Pop e Joe Strummer, da banda The Clash.

    A discoteca de Atala tem, entre os favoritos, um disquinho encartado numa revista que parece ter sido a pedra de toque dos punks brasileiros, citado também pelo próprio Zé Algodoal e por João Gordo, dos Ratos de Porão: "A Revista Pop Apresenta O Punk Rock", de 1977.

    "Cara, quase não há bandas novas", descobriu Zé Antonio já no fim do processo. Muitos ouvidos dos participantes pararam nos Strokes, cujo "Is This It" é de 2001. A imensa maioria ficou nos clássicos do pop e da MPB, com exceção da cartunista Laerte, que preferiu os clássicos eruditos, listando bolachas com interpretações de Beethoven, Nelson Freire, César Franck, Erik Satie, Mozart e Schubert. Gente fina é outra coisa.

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