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    Romance parte de tese considerada herética pela Igreja

    KARLA MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    25/12/2014 02h00

    Não se trata de uma tese puramente ficcional. Segundo Frei Betto, autor de "Um Homem Chamado Jesus" (editora Rocco), Amós Oz recorreu a um polêmico texto histórico para embasar filosoficamente o seu novo livro.

    Em "Judas", Oz defende a premissa de que o traidor foi o mais fiel devoto de Jesus.

    "Ele se baseou no Evangelho de Judas, atribuído a autores gnósticos do século 2. Este texto ficou desaparecido até 1970. Diz que Judas cumpriu a vontade de Jesus, libertando do corpo o espírito divino", comenta Frei Betto.

    Bel Pedrosa/Divulgação
    Amós Oz, escritor israelense
    Amós Oz, escritor israelense

    "Essa concepção é considerada herética pela Igreja. Para o evangelho cristão, Judas vendeu Jesus por 30 pratas, que era o preço de um escravo."

    REDENÇÃO

    Judas
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    Para o rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, a obra de Oz é redentora para a comunidade judaica e, paradoxalmente, para o próprio autor.

    "A imagem bíblica do Judas custou muito ao povo judeu, que sofreu torturas e assassinatos justificados pela ideia da traição. A mudança só ocorreu no século 20, quando o Vaticano isentou o povo judeu da responsabilidade coletiva da morte de Jesus", diz. "O interessante é que o próprio Oz hoje é visto como o Judas de Israel, por defender a coexistência com os palestinos. O livro chacoalha a noção de traição."

    Para Frei Betto, "Judas" é um livro para ser lido por judeus e cristãos. "Todos os personagens são marcados pela traição. O protagonista levanta a questão de que Jesus não veio fundar uma religião, mas instalar um modelo civilizatório baseado na justiça e no amor", diz ele.

    "Tem uma frase nuclear do romance: Os que estão dispostos a mudar, os que têm a força para mudar, sempre serão visto como traidores por aqueles que têm um medo mortal da mudança'".

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