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    Origem do direito ocidental ganha obra exemplar

    CAMILA VILLARD DURAN
    DE SÃO PAULO

    04/01/2015 02h20

    A história do direito ocidental e seu longo processo de racionalização é recontada pelo livro do historiador Amílcar D'Avila de Mello. "Primórdios da Justiça no Brasil" apresenta ao leitor a versão castelhana do direito romano-germânico aplicado em terras brasileiras, logo após o "descobrimento" das Américas.

    Historiador independente, o autor do (recorrentemente denominado) monumental "Expedições e Crônicas das origens - Santa Catarina na Era dos Descobrimentos Geográficos" traz um presente para os pesquisadores da história e do direito: transcrições bilíngues de documentos jurídicos de quatro décadas do século 16. O material empírico é riquíssimo.

    Mais do que o princípio da aplicação da Justiça brasileira, o historiador também reconstrói a origem do direito ocidental e narra a influência exercida por outras ordens jurídicas no direito romano-germânico. Essa narrativa propriamente jurídica é bem feita e bebe em sua obra anterior.

    Fonte inesgotável de pesquisa, a obra mostra e comenta documentos de direito produzidos pela expedição dos exploradores Sebastião Caboto e Alvar Núñez Cabeza de Vaca, escritos em Pernambuco, na ilha de Santa Catarina, em São Vicente e na Espanha.

    Os documentos são apresentados em ordem cronológica e trazem, como enredo, a apuração da ocorrência de motins, da apropriação indébita de bens, de homicídio, reintegração de posse, reconhecimento de dívida, difamação e injúria, dentre outras.

    São fatos jurídicos cotidianos da época, que não são geralmente contados pela historiografia oficial.

    Além de oferecer à disciplina da História uma outra perspectiva de análise, Amílcar traz aos juristas a possibilidade de acessar documentos que estariam longe de seu alcance. A transcrição de termos e peças jurídicas é acompanhada pela apresentação de suas imagens em seu estado original.

    O levantamento historiográfico foi feito principalmente no Arquivo Nacional de Assunção, no Paraguai, e no Arquivo General das Índias, na Espanha. São peças que sobreviveram a diferentes períodos e que contam parte da vida jurídica das conquistas do reino de Castela no Brasil.

    O trabalho editorial do livro de Amílcar é exemplar e, entre as narrativas de fatos históricos e jurídicos, o autor introduz imagens de cenas e representações gráficas de objetos da época.

    Há uma seleção criteriosa de fotos que acompanha uma leitura densa e rica em detalhes. Por vezes, o leitor jurista pode se perder, mas deve insistir na descoberta. O leitor historiador pode já estar "ambientado" e vai se deliciar com essa leitura jurídica de eventos corriqueiros do século 16.

    PRIMÓRDIOS DA JUSTIÇA NO BRASIL
    AUTOR Amílcar D'Avila de Mello
    EDITORA Tekoá et Orbis
    QUANTO R$ 550 (652 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

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