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    Ator da vez em Hollywood, Miles Teller vive baterista em 'Whiplash'

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    06/01/2015 02h00

    Miles Teller, 27, possui cicatrizes. Não é só uma análise psicológica superficial ou uma metáfora vagabunda.

    O jovem ator mais disputado de Hollywood tem cicatrizes físicas, adquiridas quando sofreu um acidente viajando com amigos. Ele foi lançado para fora do carro pela janela durante uma de oito capotagens e aterrissou com cacos de vidro em boa parte do lado esquerdo de seu corpo, um pulso quebrado e o ombro estraçalhado.

    Teller tinha 20 anos. Sete anos depois, algumas marcas leves ainda se veem em seu rosto. Mas ele não se importa. Na verdade, o ator faz questão de extrapolar os limites do corpo sem medo.

    É o que ele fez no drama "Whiplash: Em Busca da Perfeição", que estreia no Brasil nesta quinta (8) depois de carreira premiada no exterior, e no remake de "O Quarteto Fantástico", que deve transformar de vez a carreira dele quando estrear, em agosto.

    Christopher Beyer/Contour by Getty Images
    O ator Miles Teller, protagonista de 'Whiplash
    O ator Miles Teller, protagonista de 'Whiplash'

    "Meus dedos ganharam novos calos e sangraram bastante em Whiplash'", diz o ator sobre o papel de um baterista que deseja se firmar na banda de jazz da melhor escola de música de Nova York.

    "Mas nada se compara aos nove pontos que precisei tomar em Quarteto Fantástico'. Um pedaço do meu dedo simplesmente ficou pendurado."

    E não foi por imitar o poder de alongamento de Reed Richards, o Senhor Fantástico da história, mas ao procurar um objeto cenográfico numa caixa que tinha algum objeto afiado. "Alguém da equipe foi despedido, só digo isso", brinca. Ou não.

    Uma das marcas do ator nascido em Downingtown, Pensilvânia, é seu humor rápido e sarcástico, refletido em boa parte dos papéis que interpretou desde que surgiu em "Reencontrando a Felicidade" (2010) ao lado de Nicole Kidman.

    Atrás das câmeras, Teller era um dos mais populares da escola, estrela do time de futebol e presidente do grupo teatral –acabaria se formando em dramaturgia na Universidade de Nova York. "Se não fosse meu professor de interpretação na escola, eu provavelmente não estaria aqui dando esta entrevista."

    LEGAL E ABUSADO

    Tudo na sua carreira parece se interligar de alguma maneira com sua vida pessoal. Em "Reencontrando a Felicidade", ganhou o personagem porque o diretor John Cameron Mitchell ("Hedwig - Rock, Amor e Traição") achava que o papel de um garoto que sobreviveu a um acidente ficaria mais verossímil com as cicatrizes reais do ator.

    Teller impregnou o jovem alcoólatra do cultuado "O Maravilhoso Agora" (2013) com seu ar de "sou legal, mas não levo desaforo para casa".

    E trouxe o passado como adolescente baterista para "Whiplash", de Damien Chazelle, que ganhou prêmio de crítica e público no último Festival de Sundance e foi uma das sessões mais disputadas de Cannes –além de todo o burburinho em torno das possíveis indicações ao Oscar.

    "Eu tinha um conjunto de bateria aos 15 anos e tocava em várias bandas, então possuía uma bagagem para Damien explorar, mas nunca havia tocado jazz", conta.

    MERGULHO

    Ele precisou treinar por três semanas seguidas, quatro horas por dia, e "praticar nas horas de folga" para adquirir o movimento correto das mãos do instrumentista brilhante que sofre com os métodos radicais do professor/maestro/carrasco interpretado por J. K. Simmons ("Homem-Aranha").

    "É uma relação abusiva, mas, no fundo, acho que ele quer o bem do aluno", diz Teller. "A intenção é a melhor: encontrar um novo Miles Davis ou Charlie Parker a qualquer custo. O professor me trata feito um merda, mas no fim do dia queremos a mesma coisa: respeitar a música com a perfeição."

    Como havia ganhado músculos para atuar em sua primeira grande franquia, "Divergente", lançada no início do ano passado, o ator precisou de um regime diferente quando soube que o ator Dane DeHaan ("Poder Sem Limites") havia desistido de "Whiplash".

    "Corri atrás de Damien e deu tudo certo, mas assim que terminamos de conversar, ele disse: Cara, você precisa ficar uma semana trancando em casa sem ver o sol. Andrew precisava ser pálido, como se sua vida girasse em torno da bateria'", afirma.

    Miles Teller se identifica com a jornada obsessiva de seu personagem. Atualmente está se preparando para viver o papel verídico do boxeador Vinny Pazienza, que quebrou o pescoço em um acidente de carro e voltou a lutar. Teller é tão perfeccionista que deixa a profissão afetar seu relacionamento.

    "Estou tendo conversas sérias com minha namorada por causa do filme", confessa o namorado da modelo Keleigh Sperry, 27.

    "Falei para ela que preciso entrar em um espaço meu e treinar boxe sem me sentir culpado por não passar tanto tempo com ela. Mas nunca pensei em acabar o namoro", conta. "Ela entende meu processo e me dá o conforto para ter esse método. Mas a perfeição requer sacrifícios."

    FRUSTRAÇÃO

    A dedicação pode ser um sintoma da frustração de quando iniciou a busca por emprego em Hollywood, na década passada. "Eu via aqueles caras bonitões sendo escolhidos como protagonistas de grandes filmes e eu ficava louco da vida, porque sabia que podia fazer aqueles papéis", conta Teller.

    "Ao mesmo tempo, vejo que dei sorte, porque controlo minha carreira desde cedo e poucos atores conseguem isso. Tenho amigos do teatro que me falam como precisam trabalhar para a Disney para pagar as contas."

    Quando "O Quarteto Fantástico" estrear, Miles Teller possivelmente será o alvo da ira não apenas de outros atores, que agora o veem como "o bonitão protagonista", mas dos fãs da Marvel, preocupados com as mudanças nos heróis promovidas pelo diretor Josh Trank ("Poder Sem Limites").

    "As pessoas falam antes de ver qualquer cena. Eu garanto que o espírito dos quadrinhos está no filme e que todos ficarão surpresos com meu Sr. Fantástico", completa, sem perder a piada: "Se bem que minha calça rasgou no primeiro dia de filmagem. Acho que nada pode conter meu corpo".

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