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    Novo Houellebecq estimula guerra ideológica na França

    DE SÃO PAULO

    07/01/2015 02h12

    Previsto para chegar às livrarias francesas nesta quarta (7), "Soumission" (submissão), novo romance de Michel Houellebecq, 56, vem causando acirrado debate entre representantes da esquerda e da direita na França.

    A obra trata da chegada de um partido muçulmano ao poder no país, tema que levou intelectuais de esquerda a acusarem o autor de apoiar a tese da direita sobre o risco da imigração muçulmana para a identidade francesa.

    O diretor do jornal progressista "Libération", Laurent Joffrin, criticou a obra por ser "um marco na história das ideias, com o surgimento –ou o retorno– de teses da extrema direita na literatura".

    Miguel Medina - 5.nov.2014/France Presse
    Livreiro de Paris prepara vitrine como novo romance de Michel Houellebecq
    Livreiro de Paris prepara vitrine como novo romance de Michel Houellebecq

    Já o filósofo conservador Alain Finkielkraut disse que Houellebecq "não se deixa intimidar". Para ele, o autor descreve "um futuro que não é certo, mas é possível".

    A trama se passa em 2022, depois de um hipotético segundo mandato do presidente François Hollande, socialista. Num país fragmentado, a fictícia Fraternidade Muçulmana vence as eleições com o apoio de partidos tradicionais de direita e de esquerda, que visavam impedir a chegada ao poder da Frente Nacional de Marine Le Pen, de extrema direita.

    O novo chefe de Estado é apresentado como alguém que "defende valores": patriarcado, poligamia, mulheres usando véu e voltando a cuidar só do lar, o fim da liberdade de consciência e a conversão ao islã.

    "É uma ficção política, uma ficção plausível. Mas acelerei um pouco os acontecimentos: 2022 está perto demais", disse Houellebecq, vencedor do Prêmio Goncourt, e que já foi acusado de misoginia e racismo.

    Para ele, como os partidos atuais não atendem aos anseios do eleitor francês muçulmano, a "única solução seria efetivamente a criação de um partido muçulmano". Críticos da obra lembraram que hoje há menos de quatro milhões de fiéis muçulmanos na França, representando 10% da população do país.

    Questionado sobre o efeito político do livro, o autor disse que a obra "é neutra" e se limita a "captar uma situação". Por outro lado, admitiu que joga com "os medos".

    "Uso o recurso de assustar", disse o escritor, acrescentando que não se sabe se há mais medo da extrema direita ou dos muçulmanos.

    O presidente Hollande disse que lerá o livro. "Os autores se expressam como quiserem, não é meu papel falar bem ou mal sobre os textos".

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