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    BioMuseu do Panamá, de Frank Gehry, tenta ser um Guggenheim Bilbao

    RAUL JUSTE LORES
    ENVIADO ESPECIAL AO PANAMÁ

    12/01/2015 03h03

    Com o empurrão da mulher panamenha e um orçamento que já passou dos US$ 100 milhões (R$ 266 milhões), o arquiteto americano Frank Gehry, autor do icônico museu Guggenheim Bilbao (Espanha), ergueu no Panamá sua primeira obra na América Latina.

    Em meio ao mar de arranha-céus kitsch sem assinatura arquitetônica aparente que fazem da Cidade do Panamá uma sub-Dubai latina, o colorido do Museu da Biodiversidade se destaca -e consegue ser avistado do avião, antes de se pousar na capital panamenha.

    Raul Juste Lores
    Vista do BioMuseu, no Panamá, primeira obra de Frank Gehry na América Latina
    Vista do BioMuseu, no Panamá, primeira obra de Frank Gehry na América Latina

    O BioMuseu, que celebra os ecossistemas do país, é coberto por marquises metálicas coloridas, com dobras que lembram um "origami", em tons berrantes de vermelho, azul, rosa, amarelo, verde e laranja, sustentadas por colunas de concreto.

    LOCAL NOBRE

    O museu foi construído em uma das diversas áreas que pertenciam aos Estados Unidos e foram entregues ao Panamá com a devolução do Canal do Panamá ao governo do país em 31 de dezembro de 1999.

    O BioMuseu está em um local nobre e muito visível, onde o Canal se encontra com o Oceano Pacífico.

    Berta Aguilera Gehry, mulher do arquiteto, participou da comissão de notáveis para discutir a vocação do terreno. Em 1999, surgiu a ideia de se criar ali o museu e Gehry surgiu como candidato imbatível à encomenda.

    O governo panamenho e a equipe do museu não dissimulam a vontade de que a obra faça pela Cidade do Panamá o que o Guggenheim fez por Bilbao -colocá-la no mapa turístico.

    Mas, por enquanto, ele só é um Bilbaozinho, com traços que já não surpreendem.

    A dificuldade de arrecadar fundos, no início, e o inflacionamento do orçamento que começou em US$ 60 milhões (cerca de R$ 160 milhões), levou a diversos atrasos. O BioMuseu foi aberto à visitação em outubro de 2014, mas ainda não está de todo pronto.

    No projeto original, o museu terá um aquário, ainda não construído. Das oito galerias do prédio, só cinco estão ocupadas.

    A mostra permanente do museu, com cenografia de um escritório de arquitetura canadense, conta a história do istmo onde está o Panamá, uma "ponte" surgida há 3 milhões de anos entre as antes separadas América do Sul e do Norte.

    Um espaço de projeção cerca o visitante com dez telões à frente, aos lados e no teto com imagens do tipo Discovery Channel da natureza do país.

    Outra sala tem uma instalação com enormes animais mostrando as migrações entre norte e sul que passaram pela América Central.

    Mas a única parte da exposição que não parece ter sido pensada exclusivamente para crianças é a que conta a história do país.

    Esta parte trata desde a tentativa fracassada dos franceses de construir o canal em 1880 -liderados por Gustave Eiffel (o da torre parisiense)-, até como os americanos estimularam o movimento separatista local, quando o Panamá ainda era parte da Colômbia, para conseguir fechar o negócio e construir um canal entre o Atlântico e o Pacífico que foi propriedade americana entre 1914 e 1977.

    A localização privilegiada é boa para o museu ver e ser visto, mas trai o conceito de sustentabilidade.

    Fica a 8 km do centro da cidade, isolado no final de uma via expressa, sem nenhuma área residencial ou comercial por perto.

    Do centro da Cidade do Panamá, uma viagem de ônibus leva 40 minutos. Não há ciclovia até lá, nem o novo metrô panamenho chega perto. A sugestão no hotel é "vá de táxi". Ir de carro é a melhor opção para se visitar o museu sustentável.

    PROJETO NA VENEZUELA

    No final de dezembro, Gehry apresentou a maquete do que será sua segunda obra na América Latina.

    Ele também foi contratado pelo presidente venezuelano Nicolás Maduro para desenhar um centro musical na cidade de Barquisimeto, terra natal do famoso maestro Gustavo
    Dudamel. O maestro dirige a Sinfônica de Los Angeles, cuja sede também foi desenhada pelo bem relacionado Gehry.

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