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    'Malditos', Jean Genet e Oscar Wilde estão nos palcos paulistanos

    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO

    16/01/2015 02h10

    Um francês que passou a juventude na prisão e acabou idolatrado pela intelectualidade da Sorbonne e um irlandês formado em Oxford que acabou na prisão por "indecência grave" chegam a São Paulo nesta sexta (16).

    O primeiro, Jean Genet (1910-86), é autor de "As Criadas", em nova montagem do grupo Tapa, encenada para as comemorações dos 50 anos do Teatro Aliança Francesa.

    Na peça de 1947, o poeta do submundo francês, homossexual declarado, coloca duas irmãs num jogo perverso de inveja, revolta e ódio. Ao mesmo tempo em que planejam matar a patroa, tentam ser como ela, usando suas roupas e repetindo suas palavras carregadas de preconceito.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    As atrizes Clara Carvalho (segurando o espelho) e Denise Weinberg durante ensaio de 'As Criadas
    As atrizes Clara Carvalho (segurando o espelho) e Denise Weinberg durante ensaio de 'As Criadas'

    "O texto tem muitas camadas. Se ficasse só na questão da luta de classes já seria ótimo, mas há muito mais", diz o diretor Eduardo Tolentino, fundador do Tapa. Para ele, "Genet consegue extrair beleza do lado podre da sociedade e expurgar a podridão".

    Segundo o diretor, embora muito do que Genet expresse em suas obras já não seja mais chocante, ele continua sendo "maldito". "Ele põe o dedo na ferida, é politicamente incorreto. E ao mesmo tempo é um esteta, um poeta. Por isso toca tanto as pessoas."

    Politicamente incorreto e esteta até o último fio de cabelo, o outro maldito da semana surge como o fantasma e fio condutor de "Beije Minha Lápide", texto de Jô Bilac protagonizado por Marco Nanini.

    A partir da história de Bala (Nanini), fã de Wilde preso por quebrar o vidro que isola o túmulo do escritor no cemitério Père-Lachaise, em Paris, a peça remete à descida ao inferno do irlandês.

    No auge da fama, Wilde foi processado por um nobre britânico, pai do lorde Alfred Douglas, um dos amantes do escritor. Na época, "o amor que não ousa dizer o seu nome" era crime passível de prisão. A peça de Bilac usa referências da vida do dramaturgo, de sua relação com Douglas e de seus textos escritos na cadeia, como "De Profundis" e "A Balada do Cárcere de Reading".

    É neste último que Wilde cunha uma de suas célebres frases: "Todo homem mata aquilo que ama", que pode muito bem ser aplicada à relação de amor e ódio de "As Criadas". E que muita gente acredita ser uma frase escrita por Jean Genet.

    AS CRIADAS
    QUANDO estreia nesta sexta (16), de qui. a sáb., às 20h30; dom., às 19h; até 15/
    ONDE Teatro Aliança Francesa, r. General Jardim, 182, tel. (11) 3017-5699, ramal 5602
    QUANTO R$ 20
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos

    BEIJE MINHA LÁPIDE
    QUANDO estreia nesta sexta (16), sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 1°/3
    ONDE Sesc Consolação, r. Dr. Vila Nova, 245, tel. (11) 3234-3000
    QUANTO de R$ 15 a R$ 25
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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