• Ilustrada

    Saturday, 27-Apr-2024 14:44:56 -03

    Crítica: Comédia vem fácil para Fábio Porchat

    NELSON DE SÁ
    DE SÃO PAULO

    16/01/2015 10h09

    A comédia vem com muita facilidade para Fábio Porchat. Não que ele não dedique tempo, reescreva, reordene, ensaie. Mas Porchat é um "natural", aparenta que tudo o que fala e faz é engraçado, sem esforço, fácil.

    Seu grande paralelo seria com –em seus velhos e bons tempos de comediante– Jô Soares. Porque Porchat, em "Fora do Normal", faz também um stand-up marcadamente brasileiro, diferente de outros expoentes atuais do gênero, que remetem aos modelos americanos, carregados de retórica moralizante.

    Ele tem as suas mensagens, como pode comprovar quem assista a seus roteiros e atuações no canal do Porta dos Fundos no YouTube, mas elas não vêm acompanhadas de rancor ou humilhação. Sobretudo, cuida de mirar mais os poderosos, não os fracos, postura rara no humor nacional corrente. Na verdade, rara também no stand-up anglo-americano, segundo o crítico do jornal "The Guardian", Brian Logan.

    Antes, nomes como Richard Pryor "tendiam a ofender o establishment, a abater vacas sagradas, o militarismo, a desigualdade". Nos últimos tempos, até por reação, os "novos ofensores" miram na direção oposta.

    Lenise Pinheiro - 11.jan.2015/Folhapress
    Fabio Porchat e Mia Mello, de 'Meu Passado me Condena'
    Fabio Porchat e Mia Mello, de 'Meu Passado me Condena'

    "Fora do Normal", que criou e mantém com poucas atualizações há quatro anos, traz Porchat na essência. Reflete seu aprendizado no Comédia em Pé e como roteirista de TV, surgindo lapidado, sozinho e de chinelos. Segue o formato padrão de stand-up, com situações e piadas tiradas de seu cotidiano, algumas comezinhas, como telemarketing ou viagens, outras mais significativas. Muitas podem ser vistas on-line.

    As diferenças são a presença cênica, no sentido da concentração tanto no que fala como na resposta do público, e a destreza para as alterações de ritmo e improvisações.

    Qualidades que se repetem na comédia "Meu Passado Me Condena", em que ele divide o palco com a atriz Miá Mello, bonita e desabusada, boa comediante, ainda que sem a velocidade de Porchat.

    A peça nasceu como série de TV paga, virou filme de grande bilheteria e chegou ao teatro com os mesmos protagonistas. Na peça, é o casal clichê de classe média no que seria sua noite de núpcias. Embora arranque risadas, não é diálogo especialmente engraçado nem revelador, pelo contrário. É entretenimento superficial para plateia de casais, como tantos no teatro, alguns deles dramas também frustrantes.

    FORA DO NORMAL
    QUANDO sex. e sáb., às 23h; dom., às 21h
    ONDE Teatro Frei Caneca, r. Frei Caneca, 569; tel. (11) 3472-2229
    QUANTO de R$ 80 a R$ 100
    AVALIAÇÃO ótimo

    MEU PASSADO ME CONDENA
    QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 19h
    ONDE Teatro Frei Caneca
    QUANTO R$ 100
    AVALIAÇÃO regular

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024