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    Jennifer Aniston surpreende no papel de dependente química

    FRANK BRUNI
    DO 'NEW YORK TIMES'

    17/01/2015 03h00

    Você pode estrelar um dos mais adorados seriados cômicos do último quarto de século, ganhar um Emmy, receber US$ 1 milhão (cerca de R$ 2,65 milhões) por episódio, fazer o mesmo sucesso no cinema e ainda precisar provar alguma coisa.

    Por isso, segundos antes da primeira apresentação pública de "Cake", no Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro, Jennifer Aniston estava nervosa. "Só quando as luzes se apagaram eu percebi que no máximo oito pessoas já tinham visto o filme. E agora estávamos em um cinema de 1.500 lugares", disse ela. "Eu não sabia como ele seria recebido. É um momento terrível de vulnerabilidade."

    Mas, no fim da projeção, a plateia se levantou e lhe deu uma ovação.

    "Cake" ['Uma razão para viver' no Brasil, com estreia em fevereiro], trata da incerta recuperação de uma mulher devastada.

    O filme dispensa a Aniston bonita e põe em seu lugar uma bruxa comedora de pílulas, com cicatrizes no rosto, flacidez pelo corpo, gestos angustiados e língua afiada.

    Tony Rivetti, Jr./Divulgação
    Jennifer Aniston e Chris Messina em cena do filme 'Cake - Uma Razão para Viver'
    Jennifer Aniston e Chris Messina em cena do filme 'Cake - Uma Razão para Viver'

    O filme recebeu críticas mistas, mas Aniston conseguiu reconhecimento positivo suficiente para ser um nome considerado durante a temporada de prêmios.

    A atriz tem sido um redemoinho incansável nos últimos meses, seguindo o script de uma relações-públicas conhecida como fazedora de maravilhas no Oscar e participando de mais de uma dúzia de entrevistas durante projeções na Califórnia e em Nova York.

    Parece estar funcionado.

    Em dezembro, ela recebeu o Globo de Ouro e indicações do Sindicato de Atores de Cinema e Opção dos Críticos para melhor atriz.

    Ela reconhece o momento como talvez sua melhor chance de "se livrar do manto de Rachel", referindo-se a seu papel no seriado "Friends". O desejo de fazer exatamente isso revelou-se em sua reação a uma crítica do jornal "Guardian", que chamou "Cake" de uma vitrine para seus "dons de atriz até então ocultos". Ela disse que o comentário foi "de coçar a cabeça".

    Minutos depois, voltou ao termo "ocultos" da crítica, mais uma vez registrando frustração pela insinuação de que algo mais que talento e capacidade haviam feito parte de seu trabalho em "Friends" e os filmes que atuou desde meados dos anos 1990.

    Ela se referiu à expressão mais duas vezes depois disso. Em cada uma, seus modos normalmente suaves e afáveis assumiram um tom cortante. "Parece que você tem de fazer alguma coisa sombria para ser levada a sério", disse.

    Então, referindo-se à duração de "Friends" e a sua popularidade em todo o mundo, acrescentou: "Se você está na sala de uma pessoa toda semana durante dez anos, as pessoas vão ter dificuldade para dizer 'Está bem, o que é que você vai fazer agora?' sem fazer associações".

    Acrescentou: "Houve trabalhos que eu realmente quis e teria lutado muito por eles, mas então os ganhadores do Oscar anteriores obviamente os conseguiram".

    Por exemplo?

    Ela balança a cabeça. Não vai dizer. Ela sabe muito bem como a mídia adora jogar uma celebridade contra outra.

    A se acreditar nos tabloides, ela passou a última década em uma luta com Angelina Jolie, cujo marido, Brad Pitt, foi, é claro, casado primeiro com Aniston. "É ridículo que os dois nomes tenham de entrar na mesma frase e tenha de haver uma coisa de comparação e desespero", disse ela.

    Aniston fez vários filmes. Embora muitos foram comédias convencionais de Hollywood em tom romântico, ela também acumulou exceções. Foi a femme fatale do maluco Clive Owen em "Fora de Rumo" (2005) e se meteu em um dos grupos peculiares da diretora Nicole Holofcener em "Amigas com Dinheiro" (2006).

    De modo mais notável, interpretou uma balconista de loja de pechinchas no Texas apanhada em um casamento sem graça em "Por um Sentido na Vida", drama de 2002 pelo qual recebeu excelentes críticas. Mas o filme rapidamente caiu em esquecimento. Ela espera mais de "Cake".

    Para participar do filme, Aniston, 45, parou de se exercitar, ganhou peso, deixou o cabelo sujo e não usou maquiagem. Tudo isso é, na verdade, menos surpreendente no filme do que seus movimentos arrastados e desconexos, uma manifestação dos ferimentos físicos ambíguos da personagem e sua dependência a narcóticos.

    A filmagem de "Cake" durou apenas um mês. Os esforços de Aniston para garantir que o filme seja notado -que nada sobre ele ou seu trabalho fique "oculto"- duraram muito mais.

    O nervosismo que a acompanhou em Toronto desapareceu, substituído por pura decisão. Mexendo no microfone em uma projeção recente em Nova York, ela disse: "Tenho medo que não esteja suficientemente alto". Então falou forte. E todo mundo a ouviu muito bem.

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