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    Filme 'Timbuktu' expõe absurdo do fundamentalismo

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    22/01/2015 02h25

    Oito meses antes dos ataques à redação da revista "Charlie Hebdo", em Paris, o filme "Timbuktu" abria a mostra competitiva do Festival de Cannes. No seu âmago, uma discussão que tomaria conta dos noticiários: o tratamento satírico à imposição de costumes feita por regimes fundamentalistas islâmicos.

    O diretor mauritano Abderrahmane Sissako é corajoso, mas não é bobo. Pressiona os limites do que pode ser imperdoável sem nunca cruzá-los. No longa, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, ele mostra como a cidade de Timbuktu, no Mali, é barbarizada pela ocupação de militares extremistas muçulmanos.

    Sissako procura enxergar o absurdo e o ridículo por trás desses ocupantes, que proíbem música, futebol e símbolos de comunhão religiosa em nome de uma salvação –que nem eles compreendem.

    Divulgação
    Cena do filme 'Timbuktu'
    Cena do filme 'Timbuktu'

    "O cinema para mim é uma janela que convida o espectador a entrar, enquanto o humor é a porta para que possamos respirar um pouco fora de casa quando tudo ficar insustentável", filosofa.

    Apesar do conteúdo polêmico, o cineasta tinha a ideia de filmar em Timbuktu, em 2013. Um carro-bomba com três terroristas suicidas explodiu na cidade, matando duas pessoas e esfriando o ímpeto de Sissako.

    "O atentado mudou tudo. Não podia correr o risco de levar uma equipe estrangeira para um país que não garantia nossa segurança", conta. "Decidi ir para a Mauritânia, onde tive apoio do governo."

    TRÊS SACOS DE ARROZ

    Tratados como adolescentes confusos e facilmente manipulados, os fundamentalistas do filme representam uma visão ousada e original desses personagens, transitando entre engraçado e assustador.

    "Não adianta banir a música, a arte ou o futebol. Se uma mulher é chicoteada, ela usará o choro como um cântico", conta o diretor, que transformou até a derrota do Brasil para a França, na Copa de 1998, em assunto.

    Numa cena, dois guerrilheiros discutem e um deles fala que o Brasil "vendeu a Copa por três sacos de arroz, porque são pobres". "Não creio que o futebol é político, mas acho fascinante como as pessoas discutem o assunto de forma acalorada", diz Sissako. "A França ganhou porque tinha um bom time. Foi só uma brincadeira."

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