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    Primeiro livro escrito de dentro de Guantánamo vira sucesso nos EUA

    DA REUTERS

    22/01/2015 17h18

    O primeiro livro escrito de dentro da prisão de Guantánamo, que descreve 13 anos de episódios de tortura, humilhação e desespero tornou-se um sucesso de vendas nesta quarta-feira (21) nos Estados Unidos, atraindo uma incomum atenção para o caso do autor.

    O relato escrito por Mohamedou Ould Slahi a partir da base naval dos EUA em Cuba, "Guantanamo Diary" ("Diário de Guantánamo"), foi lançado na terça-feira (20) após uma batalha legal de sete anos.

    O livro reconstitui banhos de gelo, degradações e humilhações diversas num relato em primeira pessoa sobre os interrogatórios aos quais Slahi foi submetido, ainda que ele nunca tenha sido acusado formalmente de qualquer crime.

    Ben Stansall/AFP
    O livro 'Guantánamo Diary', escrito por um prisioneiro
    O livro 'Guantánamo Diary', escrito por um prisioneiro

    Um tribunal federal norte-americano ordenou a libertação de Slahi, de 44 anos, em 2010, mas a decisão nunca foi cumprida e ele permanece encarcerado.

    O manuscrito de 466 páginas de Slahi foi inicialmente classificado como documento secreto pelo governo dos EUA e passou por uma edição forte antes da publicação.

    "Ele é um homem inocente. Ele permanece detido ilegalmente e deveria ser a pessoa a contar sua história, sem censura", disse a advogada de Slahi, Hina Shamsi, da União Americana pelas Liberdades Civis.

    BEST SELLER

    "Guantanamo Diary" ficou entre os 100 livros mais vendidos da Amazon e entrou na lista dos 50 mais vendidos da livraria Barnes&Nobles nesta quarta-feira.

    "Está à venda há apenas um dia, mas o meu telefone não para de tocar, então obviamente que o livro está chegando às pessoas do jeito que gostaríamos", disse a agente Liz Garriga, da Hachette Book Group, companhia à qual pertence a Little, Brown and Co., editora da obra.

    Shamsi disse que o suplício de Slahi é mais do que a prova de que a tortura não funciona. Ela citou um trecho no qual ele descreve seus interrogadores como dizendo: "Tudo que você tem que dizer é 'eu não sei', 'não me lembro', para a gente te ferrar."

    A família de Slahi organizou uma entrevista coletiva em Londres na terça para pedir sua libertação, ao mesmo tempo em que o livro era lançado na Grã-Bretanha. Várias celebridades, incluindo os atores Stephen Fry e Colin Firth, fizeram gravações publicadas on-line de trechos do livro.

    Fry leu a descrição de Slahi sobre seu tratamento fora de Guantánamo, quando se encontrava nas mãos de indivíduos árabes que cumpriam ordens dos norte-americanos: "Eles preencheram o espaço entre minhas roupas e eu com cubos de gelo, do pescoço ao tornozelo, e sempre que o gelo derretia, colocavam cubos novos e duros. De vez em quando um dos guardas batia em mim, a maioria das vezes na cara."

    Slahi, natural da Mauritânia, disse que se entregou às autoridades três semanas depois dos ataques de 2001, sendo levado para a Jordânia, onde foi interrogado por vários meses antes de ser enviado ao Afeganistão e então a Cuba, de acordo com transcrições de seu processo judicial militar nos EUA.

    Slahi foi descrito pela comissão responsável pela investigação dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra o World Trade Center e o Pentágono como "um importante operador da Al Qaeda" que ajudou a organizar a viagem de treinamento ao Afeganistão de membros da célula de Hamburgo, na Alemanha, incluindo dois dos sequestradores do 11 de setembro.

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