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    Fotógrafa tenta publicar livro com imagens inéditas dos Mutantes

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    27/01/2015 02h30

    Um acervo de imagens desconhecidas do maior grupo pop que o Brasil já conheceu –os Mutantes– pode vir a público. Mas tudo depende de seus fãs.

    A fotógrafa Leila Lisboa Sznelwar, 64, conviveu intensamente com os Mutantes entre 1969 e 1974 e registrou o dia a dia da banda em centenas de fotos intimistas e reveladoras.

    Há algumas semanas, Leila iniciou uma campanha de financiamento coletivo para conseguir R$ 100 mil e publicar o livro "A Hora e a Vez", com 130 fotos inéditas do grupo. Faltam 43 dias para terminar a campanha e ainda são necessários R$ 86 mil (veja mais em migre.me/oll5R).

    Leila Lisboa Sznelwar/Divulgação
    Sérgio Dias, Rita Lee e Arnaldo Baptista em foto inédita de Leila Lisboa Sznelwar
    Sérgio Dias, Rita Lee e Arnaldo Baptista em foto inédita de Leila Lisboa Sznelwar

    Leila diz que apelou ao "crowdfunding" para viabilizar o projeto, já que nunca conseguiu atrair interesse de editoras.

    "Não tive apoio de ninguém. As editoras nem olhavam minhas fotos ou então queriam todos os direitos sobre as imagens. Eu posso ser boa, mas não sou boba."

    O projeto tem o apoio de ao menos dois Mutantes, os irmãos Sérgio Dias e Arnaldo Baptista. Rita Lee há mais de 20 anos não comenta nada sobre o grupo.

    Sérgio colaborou com uma frase para divulgar o projeto ("Ninguém melhor do que a Leila para contar com verdade tudo o que aconteceu conosco naquela época de magia e psicodelia"). Já Arnaldo enviou e-mails aos fãs pedindo para que todos colaborassem.

    Leila conheceu os Mutantes em 1969, quando foi com a amiga e cantora Lucia Turnbull a um show da banda no Theatro São Pedro, em SP. Não só pelo grupo, mas também pelo baixista Liminha, com quem iniciou um namoro que duraria até 1973. Foi essa relação que permitiu a Leila entrar para a intimidade do grupo.

    "Eu sempre fui a namorada, mas me dava muito bem com todos eles", diz.

    "Havia muito carinho entre nós, de forma que não havia diferenças no relacionamento. A Rita era muito engraçada, o Serginho era todo paz, amor e guitarra, o Arnaldo a 300 por hora com tudo, o Dinho e o Liminha eram mais inocentes. Já eu era uma menina deslumbrada pela magia da época."

    As fotos captam os Mutantes em ensaios (muitos deles realizados na casa da Serra da Cantareira, onde a banda montou seu "quartel general"), shows e festas.

    As imagens mostram uma banda muito unida e feliz. "No geral, era um trabalho coletivo, mas o Arnaldo era genial, ninguém pode negar. Mas todos criavam o tempo todo, era impressionante", diz a fotógrafa.

    O período compreendido no livro foi marcado por cisões no grupo, primeiro com a saída de Arnaldo e, posteriormente, com o início da carreira solo de Rita Lee.

    Leila vivenciou de perto essas mudanças na dinâmica e no relacionamento da banda: "Tudo isso coincidiu com a minha separação do Liminha, o que tornou tudo mais pesado também para nós. Como eu me lembro dessa época: turbulenta, ansiosa, com cabeças já pensando no futuro. Tanto eles quanto a Rita queriam seguir seus caminhos. Mas nada suavizou a separação no momento."

    Depois das brigas que dividiram a banda, Leila seguiu trabalhando com os integrantes. Fez a foto de capa de "Lóki" (1974), primeiro álbum solo de Arnaldo.

    "Também fotografei o primeiro show dos Mutantes separados, quando a Rita se juntou com a Lucinha, formando as Cilibrinas do Éden. Eles tocaram em seguida, no mesmo show, o festival Phono 73. Chorei muito nesse show, o que foi uma bobagem, porque foi lindo."


    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)

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