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    'Birdman' se impõe sobre rivais do Oscar com dilema existencial

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES

    28/01/2015 02h00

    Os filmes do mexicano Alejandro González Iñárritu nunca possuíram muita ironia. Mesmo obras consagradas, como "Amores Brutos" (2000), "21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006), revelavam um cineasta ambicioso e talentoso, porém extremamente sisudo, quase irritante, em busca de reconhecimento.

    A ironia é que "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)", sua primeira comédia, obteve nove indicações e virou favorito ao Oscar 2015 exatamente quando prêmios deixaram de ser prioridade para Iñárritu.

    "Sucesso, para mim, é diferente do que era há cinco anos", afirma o cineasta à Folha, de Vancouver, Canadá, onde roda o próximo filme, "The Revenant". "Antes, eu queria ser aplaudido por um trabalho, mas agora prefiro ter o afeto da minha equipe. Lição que talvez tenha aprendido muito tarde na vida."

    A nova forma de encarar a carreira não significa que o mexicano tenha ficado menos ambicioso. Pelo contrário: "Birdman" é um filme metalinguístico e um poderoso estudo sobre ego e realizações artísticas, empacotado no que parece ser (mas não é) um plano-sequência (quando a câmera filma sem que haja cortes) ininterrupto.

    Divulgação
    O herói Birdman, que batiza o filme
    O herói Birdman, que batiza o filme

    "Eu tinha consciência de que era absolutamente irresponsável", brinca o mexicano. "Sabia que o filme era um trem sem rumo em um território desconhecido, mas não tinha medo de falhar. Isso me libertou, me colocou em outro estado mental."

    Para o diretor, filmar dessa forma, com cortes imperceptíveis, foi "um pesadelo intencional", mas "importante para a narrativa". Tanto que "Birdman" ocupou 30 dias de filmagens no tradicional teatro St. James, em Manhattan, mas precisou recriar os bastidores em um estúdio no bairro do Queens, onde o ambiente poderia ser mais controlado.

    "Estilo e conteúdo fazem parte de um casamento. Eu sabia que precisaria de algo diferente para o público penetrar na mente do protagonista", conta Iñárritu.

    "'Birdman' é como um musical de jazz. Foi bom, porque sou um músico frustrado e tive a experiência de trabalhar cada beat, ritmo e palavra. Era um timing perfeito, senão tudo falharia. Foi incrível, exigente e preciso."

    No filme, Michael Keaton encontrou o papel de sua vida como Riggan Thomson, um ator de franquia de super-herói que trocou o sucesso certo de uma continuação para se reinventar na Broadway. Um paralelo que se aplica entre o ex-Batman e o ex-Birdman. "Dei sorte de Michael ter aceitado, pois sabia que traria uma metalinguagem interessante. Mas ele não se arrepende de ter recusado o terceiro 'Batman'. Sabia que seria uma porcaria."

    Iñárritu identifica-se com essa luta entre a facilidade do medíocre e a dor pela arte. Ele considera tudo que fez antes de "Birdman" uma "merda". "Morro de medo de ser medíocre. É um filme sobre mediocridade e como lidamos com ela. A ambição humana pode ser engraçada e patética", filosofa. "Foi uma oportunidade interessante de explorar meu ego. Tenho mais trabalhos medíocres que bem-sucedidos. Sou um perfeccionista neurótico."

    Tanta perfeição o deixou com dois prêmios que servem como termômetros fortes para o Oscar: os sindicatos de atores e produtores, quebrando a hegemonia de "Boyhood". Ainda assim, diz que aceitaria fazer um filme da Marvel "por muito dinheiro", mas logo completa: "Estou brincando. Seria uma péssima ideia. Eu levaria a Marvel à falência".

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