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    Crítica: Intérpretes viscerais do casal abraçam clichês da ciência

    REINALDO JOSÉ LOPES
    COLUNISTA DA FOLHA

    29/01/2015 02h03

    É difícil não se emocionar com "A Teoria de Tudo", em especial se você tem alguma familiaridade com a história e os maneirismos do físico Stephen Hawking, provavelmente o único cientista vivo com status de celebridade global.

    Não que o filme force a barra no sentimentalismo –a narrativa é bastante contida. O que acontece é que os atores que interpretam Hawking e sua primeira mulher, Jane (Eddie Redmayne e Felicity Jones), incorporam de forma tão visceral a aparência e o comportamento dos personagens reais que a sensação é ter viajado no tempo, de volta à Cambridge dos anos 1960.

    Parte da pungência do filme vem da deterioração que ambos sofrem ao longo de décadas do casamento: Hawking por conta da doença neurodegenerativa que lhe rouba os movimentos e a fala, Jane porque o peso de cuidar de três filhos e de um marido brilhante e cabeça-dura acaba levando à separação dos dois.

    Divulgação
    Eddie Redmayne como Stephen Hawking e Felicity Jones como Jane, sua primeira mulher
    Eddie Redmayne como Stephen Hawking e Felicity Jones como Jane, sua primeira mulher

    Essas dificuldades crescentes são temperadas com triunfos e bom humor. Ao mesmo tempo em que Redmayne vai progressivamente assumindo a postura contorcida que a doença deu a Hawking, o ator consegue mimetizar o olhar zombeteiro e a autoconfiança que caracterizam o físico.

    ESTEREÓTIPO

    Se a aparência e a personalidade dos protagonistas da história real foram recriadas com capricho, não dá para dizer o mesmo sobre a ciência que celebrizou Hawking.

    É compreensível: o foco do filme é a história de amor, não as equações, e não é a coisa mais fácil do mundo explicar os conceitos da relatividade e da mecânica quântica. Mas a sensação é que o filme acaba seguindo as soluções mais fáceis e abraçando os clichês ao falar de ciência.

    Quando está trabalhando, o Hawking de "A Teoria de Tudo" vira o estereótipo do gênio solitário, cujos insights repentinos o ajudam a entender a natureza do Cosmos sem sair da cadeira de rodas –ele percebe que buracos negros podem "evaporar" ao prestar atenção nas brasas da lareira.

    No mundo real, a ideia teve um parto bem mais complicado e lento, graças à colaboração (e às rivalidades) de Hawking com colegas tão brilhantes quanto ele nos EUA e na antiga União Soviética.

    Também é difícil não se irritar um pouco quando o filme reduz o debate sobre o significado das descobertas do físico à existência ou não de Deus como criador do Universo –tema que tem pouco a ver com o trabalho de Hawking, embora ele goste de se pronunciar sobre o assunto.

    Mas o filme acerta uma coisa importantíssima ao falar de ciência: a nova visão da estrutura do Cosmos trazida pela física moderna, um pano de fundo tão grandioso que é capaz de transfigurar a história de amor do casal.

    A TEORIA DE TUDO
    (THE THEORY OF EVERYTHING)
    DIREÇÃO James Marsh
    ELENCO Eddie Redmayne, Felicity Jones
    PRODUÇÃO Reino Unido, 2014, 10 anos
    QUANDO estreia nesta quinta (29)
    AVALIAÇÃO bom

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