Não seria um exagero dizer que o britânico Stephen Hawking, 73, é o cientista mais conhecido da atualidade. Mesmo entre quem não sabe nada sobre física, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar dele. A vida privada de Hawking, no entanto, é menos popular.

O filme "A Teoria de Tudo", que estreia no Brasil nesta quinta-feira (29), ajuda a elucidar essa parte da equação.

Hawking tinha 21 anos quando recebeu o diagnóstico de esclerose lateral amiotrófica (ELA), a doença degenerativa que acabou por tirar seus movimentos. Ele havia acabado de conhecer Jane Wilde, com quem ficaria casado por 25 anos.

	Eddie Redmayne, como Stephen Hawking, e Felicity Jones (Jane Wilde) em cena de 'A Teoria de Tudo'

Baseado na autobiografia dela, o longa de James Marsh –vencedor de um Oscar de melhor documentário por "O Equilibrista", em 2009–, retrata a vida a dois e o acirramento das tensões entre eles com a deterioração do estado de saúde de Hawking e sua ascensão profissional.

"Eu tinha a imagem fixa de Stephen Hawking como uma grande mente científica em uma cadeira de rodas com a voz eletrônica", conta Marsh.

"Mas eu rapidamente me afeiçoei à visão de Anthony [McCarten, o roteirista]: contar a história da perspectiva de uma mulher que toma a decisão de ficar com o homem que ama quando ele é diagnosticado com uma doença terminal."

OSCAR

O filme recebeu cinco indicações ao Oscar, incluindo melhor filme, ator e atriz, para os protagonistas Eddie Redmayne (Hawking) e Felicity Jones (Jane).

"Eu gostei muito do fato de não ser um filme biográfico direto. Ele fala da vida familiar, dos aspectos íntimos da vida de Stephen", diz Jones em entrevista à Folha.

"Foi uma jornada emocional muito desafiadora, porque, de alguma maneira, eu estava interpretando alguém que está em segundo plano, no papel menos glamuroso."

Para Redmayne, o desafio era mais óbvio: retratar a evolução da doença degenerativa de Hawking.

"Passei os meses antes do início das filmagens tentando rastrear como se deu a deterioração de seus movimentos. Trabalhei com um bailarino e um fonoaudiólogo", conta ele, que ganhou o Globo de Ouro de melhor ator em filme de drama pelo papel.

O ator não conheceu Hawking até poucos dias antes de começar a gravar o longa. "Foi muito intimidador. Tinha medo de conhecê-lo e descobrir que ele era totalmente diferente do que eu tinha imaginado", afirma.

O encontro com o cientista mudou pelo menos uma coisa na forma como Redmayne o interpreta no filme: o jeito de falar. "Ele me perguntou: 'Você vai me retratar antes do aparelho de voz?'. E, quando eu disse que sim, ele ressaltou que a sua fala era bem arrastada."

Como o roteiro quase não tratava das alterações na fala de Hawking, o ator pressionou por mudanças. "Isso faz parte da doença e Stephen queria que tratássemos disso", afirma. Em algumas cenas, é difícil entender o que ele diz. Em outras, é traduzido por Jane.

Para o alívio de Redmayne, o cientista aprovou sua atuação no filme. "Depois de assistir, ele nos ofereceu a voz dele", conta, em referência à voz eletrônica verdadeira de Hawking utilizada no longa. "E isso foi o mais emocionante."

"Assistir a "A Teoria de Tudo" foi uma experiência emocional intensa para mim. Foi possivelmente o mais perto que chegarei de viajar no tempo", disse Hawking em sua página oficial no Facebook.

POLÊMICA

"A Teoria de Tudo" também mostra parte da polêmica separação dos dois, quando Hawking deixou a mulher para viver com uma de suas enfermeiras, Elaine Mason. Jane se envolveu com o músico Jonathan Jones, com quem é casada até hoje, enquanto estava com Stephen.

As maiores controvérsias da história real, no entanto, ficaram de fora. Hawking se separou de Elaine em 2006 depois de acusações –nunca comprovadas– de que ela o agredia. Durante seu segundo casamento, afastou-se por completo de Jane e seus três filhos. A relação familiar só foi retomada após o divórcio.