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    Jessica Lange brilha como mulher assustadora em 'American Horror Story'

    ALESSANDRA STANLEY
    DO 'NEW YORK TIMES'

    31/01/2015 03h00

    Em um sussurro sedoso e insinuante, Elsa Mars, a Marlene Dietrich frustrada que Jessica Lange interpreta em "American Horror Story: Freak Show", conta a uma nova empregada por que não tem sessões de "matinê".

    O público, diz ela, quer ver esse tipo de história só à noite, "quando a escuridão desce e fala de mistério e desconhecido, quando a lógica perde o punho e a imaginação sai para brincar".

    Então sua voz baixa vira um rosnado teutônico. "Você está em um verdadeiro show de horror agora. O meu show de horror."

    Cada temporada de "American Horror Story", do canal americano FX, apresenta uma nova metáfora de Hollywood.

    A temporada atual, "Freak Show", sobre uma trupe de artistas de feira na pequena cidade de Júpiter, na Flórida, em 1952, é quase adequada demais.

    As estrelas de cinema mais velhas de Hollywood eram vistas como monstros depois que suas carreiras perdiam o pique. A TV era o show mambembe onde os artistas idosos buscavam trabalho quando os diretores dos estúdios deixavam de procurá-los.

    O cinema não mudou. Meryl Streep e Helen Mirren ainda conseguem bons papéis, mas na maioria dos casos a verdade é que quanto mais velha uma atriz, maior a dificuldade para fazer um papel atraente, quanto mais uma personagem romântica.

    A televisão, e especialmente "American Horror Story", tem maior probabilidade de garimpar a atração sexual em personagens repulsivos.

    Hollywood já passou de sua melhor fase, porém, e a televisão não é mais uma opção decadente.

    Aos 65, Lange, que ganhou o Oscar por "Tootsie" em 1982 e "Céu Azul" em 1994, é uma personagem sinistra e sedutora em todas as aparições —a atriz brilha com uma mística matriarcal.

    Ela ganhou três Emmys no papel de aberrações sociais, incluindo dois em "American Horror". Suas mulheres têm sotaques e passados diferentes, mas compartilham muitas preocupações sobre idade, poder e solidão.

    A camada subjacente redentora de cada temporada está nas personagens, que são estranhamente reais mesmo quando interpretam os voos mais radicais de imaginação e violência brutal, principalmente Lange.

    Suas heroínas são envoltas em loucura e sátira, mas cada uma carrega um lampejo de verdade interior —a atriz coloca pungência em todas essas gárgulas.

    "American Horror Story" é uma confusão gloriosa, uma mistura absurda e celebradora de design de meados do século, música pop eclética e sangue.

    Nem tudo é coerente em "Freak Show". Por exemplo, muitos números musicais apresentados em cena pelos personagens não são canções dos anos 1950, mas um pastiche de música pop de todas as eras, incluindo David Bowie, Nirvana e Fiona Apple.

    Mas lógica e continuidade não são o principal desse carnaval maléfico e atordoante, é claro. A constante é Lange em todas as suas variadas encarnações.

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