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    Gênio e galã, Edward Frenkel quer fazer matemática 'cool'

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES (EUA)

    31/01/2015 02h30

    "Foi como o primeiro beijo." A comparação pode soar estapafúrdia para os que passaram anos sofrendo com os números no colégio.

    Mas, para o professor e pesquisador russo Edward Frenkel, 46, foi mesmo esta a sensação que teve aos 17 anos, quando conseguiu solucionar, depois de três meses de trabalho duro, um problema matemático nunca antes resolvido.

    Pioneiro da matemática moderna, Frenkel quer popularizar umas das matérias mais cabuladas da escola no livro "Amor e Matemática - O Coração da Realidade Escondida".

    Divulgação
    O matemático Edward Frenkel
    O matemático Edward Frenkel

    No título, ele conta como se apaixonou pelo tema, ainda que morando na inóspita União Soviética dos anos 1980, que impedia alunos judeus, como ele, de entrar nas melhores escolas.

    "Quando você faz uma descoberta, é um momento de inspiração, de revelação", diz o autor à Folha, sobre a primeira epifania numérica. "Foi bem especial porque não tinha certeza de mim mesmo, era ansioso."

    Para quem nunca chegou perto de tamanha comoção numa aula de aritmética, a culpa, diz Frenkel, é dos professores. Segundo ele, aprendemos na escola apenas uma fração do que é hoje a verdadeira matemática.

    "Em literatura, lemos Homero e também autores contemporâneos", comenta. "Em geometria, estudamos apenas Euclides, e nada além. É um problema. A única geometria que os estudantes estão sendo expostos tem uns 2.300 anos de idade."

    Professor da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Frenkel lembra que boa parte das inovações tecnológicas dos últimos 15 anos, como os algoritmos de busca do Google ou de recomendação de livros da Amazon, está ligada a avanços matemáticos –um poder de conhecimento que não pode ficar nas mãos de poucos.

    Em "Amor e Matemática", Frenkel mistura capítulos sobre sua história pessoal –como o convite para ser professor visitante em Harvard aos 21 anos– com explicações de novas teorias, como o Programa de Langlands, uma de suas especialidades, que entrelaça diversos campos matemáticos. "Mesmo ao ignorar estas páginas, o leitor vai perceber que as fórmulas não são assustadoras."

    SEMINU

    Em sua busca para humanizar a matemática, Frenkel também combate a caricatura dos matemáticos, geralmente vistos como seres perturbados no cinema.

    "Muitos filmes reforçam o estereótipo de gente com problemas mentais, desconectada do mundo, que fica horas olhando a distância... Às vezes eu fico assim, é verdade, mas não o tempo todo! Quero aproveitar a vida", diz. "Matemática pode ser muito 'cool'."

    Amor e Matemática
    Edward Frenkel
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    O próprio Frenkel é um exemplo de como é possível ser matemático e "cool".

    Ele tem fama de bonitão entre seus alunos, e apareceu seminu num curta-metragem que ele mesmo escreveu sobre a fórmula secreta do amor, levando o apresentador Stephen Colbert a elogiar seus dotes físicos.

    "É algo para brincar. Se meu corpinho for trazer mais gente para a sala de aula, ótimo. Só espero que descubram também a beleza da matemática."

    AMOR E MATEMÁTICA - O CORAÇÃO DA REALIDADE ESCONDIDA
    AUTOR Edward Frenkel
    TRADUÇÃO Carlos Szlak
    EDITORA Casa da Palavra
    QUANTO R$ 44,90 (368 págs.)

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