É difícil encontrar, neste século, um filme brasileiro tão relevante quanto "Serras da Desordem" (2006, Curta!, 10 anos, 19h), de Andrea Tonacci. Mas ele é quase desconhecido do público.
Talvez seja porque brasileiro não gosta de filme de índio. Mas a história de Carapiru, que sobreviveu anos sozinho, longe de família e tribo, é muito mais do que isso.
Trata-se de uma epopeia fabulosa. Lembra Ulisses e sua "Odisseia" ou Robinson Crusoé. Mas Carapiru não tem consciência disso; vive em estado de ausência, sobrevive quase como bicho de estimação de comunidades.
Não é só um índio: é um homem do centro do Brasil em um momento crucial de nossa experiência do século 20. Eis um filme que nos lança no estranho de nós mesmos, sem deixar de divertir.