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    Crítica: 'Corações de Ferro' é um filme que não acredita em seus heróis

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    05/02/2015 02h20

    "Ideais são pacifistas. A história é violência." A frase, cuspida por um sargento veterano na face de um jovem recruta, define a ambiguidade que desorienta os personagens de "Corações de Ferro".

    Ambientado durante a invasão das tropas aliadas ao território alemão na fase final da Segunda Guerra, o longa pertence à linhagem dos filmes de guerra que não acreditam em seus heróis.

    Por uma coincidência no calendário de estreias, "Corações de Ferro" chega ao circuito logo antes do lançamento de "Sniper Americano", ao qual opõe um ponto de vista negativo ao do guerreiro fascistóide retratado no filme de Clint Eastwood que estourou nas bilheterias dos EUA.

    Divulgação
    Norman (Logan Lerman) and Wardaddy (Brad Pitt) em cena de 'Corações de Ferro'
    Norman (Logan Lerman) and Wardaddy (Brad Pitt) em cena de 'Corações de Ferro'

    Pois o tratamento niilista escolhido pelo diretor e roteirista David Ayer mantém o longa afastado da tradicional defesa do bem que sempre assegura aos americanos o lugar de guardiães do humanismo e da humanidade.

    O grupo de cinco combatentes liderados por "Wardaddy" (Brad Pitt, longe da imagem sedutora) nada mais é que uma máquina de matar.

    Apelidado de Fury (fúria, nome original do filme), o tanque no qual se movem os soldados funciona como o lugar onde foram abolidas as razões humanas admitidas para derrotar o inimigo.

    Aqui, a barbárie deixa de ser a característica exclusiva dos nazistas que justifica sua destruição e se impõe desde o campo "civilizatório" representado pela América.

    A chegada de Norman (Logan Lerman), um jovem ingênuo, a essa zona de horror oferece o contraste que falta. As crenças que ele guarda na inocência infantil, no amor ao próximo e no interdito moral ao assassinato terão de ser ultrapassadas para que o garoto enfrente o combate em que só vale matar ou morrer.

    Assim, o conflito se desloca do habitual "nós contra eles" dos filmes de ação para as entranhas desse "nós" e introduz um bocado de dúvidas na cabeça de quem só sente prazer na pancadaria.

    Como em "Os Reis da Rua" (2008) e "Marcados para Morrer" (2012), filmes dirigidos antes por Ayer, o perfeccionismo visual e o ritmo das cenas de ação deixam a impressão de que se trata de apenas mais um competente realizador especializado no gênero.

    No entanto, o modo como seus filmes deixam na sombra as motivações dos personagens ou como forçam a clássica identificação com tipos brutais e amorais são sempre mais fascinantes do que a magia de fadas e elfos.

    CORAÇÕES DE FERRO
    (FURY)
    DIREÇÃO David Ayer
    ELENCO Brad Pitt, Shia LaBeouf, Logan Lerman, Michael Peña
    PRODUÇÃO EUA, 2014, 16 anos
    AVALIAÇÃO bom

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