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    Monja Coen fala sobre relação de Odete Lara com o budismo

    DE SÃO PAULO

    04/02/2015 16h45

    Monja Coen, primaz fundadora da comunidade zen budista do Brasil, teve os primeiros contatos com Odete Lara há 30 anos.

    A atriz estava a procura de ensinamentos do zen budismo, do qual tornou-se adepta e divulgadora.

    Leia abaixo o depoimento da monja sobre a atriz , morta nesta quarta (4), aos 85 anos, no Rio.

    *

    "Odete Lara esteve na Califórnia, à procura do Zen, na mesma época em que eu morava no Zen Center of Los Angeles.

    Isso há mais de trinta anos.

    Não nos encontramos nos Estados Unidos. Soube de sua passagem pela minha comunidade, exatamente no dia em que eu estava fora.

    Quando cheguei me esperavam ansiosos para contar que uma grande atriz brasileira estivera nos visitando.

    Ao voltar ao Brasil a encontrei. Algumas vezes. Ela havia traduzido para a Editora Palas Athena o livro "Mente Zen, Mente de Principiante" de Shunryu Suzuki Roshi, o fundador do Zen Center de San Francisco. Esse havia sido o primeiro livro Zen que eu lera nos Estados Unidos.

    Usei o livro em Português para difundir o Zen, já aqui no Brasil, por muitos anos e ainda o continuo a recomendar. Foi também na Associação Palas Athena de Estudos Filosóficos que nos reencontramos pela primeira vez. Reencontro de um primeiro encontro.

    Estivemos juntas em alguns eventos de meditação. Poucos. Ela esteve em algumas palestras que fiz aqui em São Paulo. Ela residia no Rio.

    Costumava me dizer que "vivia como se fosse uma monja". Morava só, tinha uma rotina bem tranquila, sistemática e organizada. Acordava muito cedo, como nos mosteiros, para as práticas de meditação, estudos e traduções (traduziu também textos do Mestre Vietnamita Thich Nath Hahn, de quem também se tornou seguidora).

    Odele Lara deixa um trabalho muito importante para pensadores, filósofos, estudiosos das religiões e praticantes Zen Budistas através das obras que traduziu e da prática verdadeira que foi a sua, desde que encontrou o Zen Budismo.

    Há dois anos, quando estive no Rio, me disseram que ela estava muito fraca, quase o tempo todo deitada.

    Eu a imaginei assim, loirinha e pálida, pequena e forte. Enviei meus cumprimentos.

    Agora, hoje, fico sabendo de sua morte, de sua passagem, de seu parinirvana.

    Pari - grande ou final e Nirvana - paz, tranquilidade.

    Que esteja na grande paz de Nirvana, sendo recebida por todos e todas Budas e Bodisatvas, seres iluminados e benfazejos.

    Sua vida e sua obra permanecerão como estímulo e exemplo de dedicação, prática e iluminação.

    Que todos os seres se beneficiem e possam se tornar o Caminho Iluminado.

    *

    Agora sei por que a Lua Cheia da noite passada não me deixava dormir. Suavemente abri a veneziana e seu brilho de prata entrou silencioso e pálido —como Odete— em minha vida.

    Saudades.

    Profundo respeito e gratidão."

    MONJA COEN, líder espiritual budista

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