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    Crítica: Esquecível, 'Selma' se perde na biografia de Luther King

    INÁCIO ARAUJO
    CRÍTICO DA FOLHA

    06/02/2015 00h00

    A primeira reação foi de surpresa: "Selma" foi indicado ao Oscar de melhor filme e, praticamente, a nada mais (a outra indicação: melhor canção). Vendo-o, isso se explica: é muito mais ao assunto que o prêmio dá importância do que propriamente ao filme de Ava DuVernay.

    Com efeito, sempre é importante, de certa maneira, um filme que trate da segregação e do racismo. No entanto, "Selma" é pouco mais que um telefilme sobre um momento decisivo da luta dos negros dos EUA pela igualdade.

    No centro dela, Martin Luther King e sua estratégia pacifista. Do lado contrário, o resistente racismo do Alabama, com sua Ku Klux Klan, seus xerifes ferozes e seu governador George Wallace.

    Divulgação
    Cena do filme 'Selma', sobre Martin Luther King
    Cena do filme 'Selma', sobre Martin Luther King

    Fechando o triângulo político do drama, temos em Washington o presidente Lyndon Johnson, pressionado por todos os lados, e o FBI de Edgar Hoover (também racista).

    Se no início vemos Luther King recebendo o Nobel da Paz em 1964, pouco depois descobrimos que, no sul dos EUA, esse papo de prêmio não cola: a promessa é de chumbo grosso.

    O "chumbo grosso" inclui ameaças, escutas telefônicas e intrigas sobre a vida pessoal de King, que reage percebendo que quanto mais intolerantes forem os brancos, melhor será para a sua causa.

    Por isso, Selma é uma cidade estratégica para King: ali dá as cartas um xerife tipo cão raivoso. Ele planeja a decisiva marcha de Selma à capital Montgomery, que determina enfim o envio ao congresso, por Lyndon Johnson, da lei que abre nacionalmente o direito de voto à população negra.

    DuVernay conduz esse drama frouxamente. Ora parece investir na épica implícita na luta dos negros nos anos 1960, ora parece recuar e, acompanhando os fatos, fixa-se na violência policial sulista. Ora focaliza o melodrama familiar, ora destaca a política.

    É possível que cada um desses aspectos faça sentido. No entanto, essa espécie de indecisão sobre que aspecto colocar em evidência tira ao filme toda a perspectiva que não meramente sentimental.

    Por isso, podemos todos concordar com a causa referida em "Selma" e, no mesmo movimento, esquecer o filme meia hora depois.

    SELMA
    DIREÇÃO Ava DuVernay
    ELENCO David Oyelowo, Carmen Ejogo, Tim Roth
    PRODUÇÃO EUA/Reino Unido, 2014, 12 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO regular

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