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    Filme 'Sniper Americano' revela trechos censurados de biografia

    ROBERT ITO
    DO "THE NEW YORK TIMES"

    07/02/2015 03h00

    Em "Sniper Americano", Chris Kyle (Bradley Cooper) mira com seu fuzil um menino. Membro do Seal (tropa de elite da Marinha americana) em seu primeiro período de serviço militar no Iraque, ele foi encarregado de proteger a vida dos colegas, e o menino está correndo em direção a um comboio de militares com uma enorme granada nas mãos.

    Qualquer espectador relativamente intuitivo já sabe como isso acaba.

    Kyle atira no menino. Quando uma mulher pega a granada e tenta terminar o serviço, ele também atira nela. Menino e mulher morrem.

    A cena é crucial, mas não há qualquer menção de um garoto sendo morto no livro "Sniper Americano", a autobiografia que inspirou o filme.

    Depois de Kyle ter encaminhado a obra para ser revista pelo Departamento de Defesa, esse trecho foi cortado, segundo o roteirista do filme, Jason Hall.

    Não é a única diferença entre a versão cinematográfica de "Sniper Americano", dirigida por Clint Eastwood, e o best-seller de 2012.

    Muitas coisas da vida de Chris Kyle já fazem parte dos mitos das Forças Armadas americanas: certa vez, ele acertou um tiro em um homem a uma incrível distância de 1.920 metros.

    Mas o Chris Kyle que o espectador vê no filme é uma figura muito mais complexa que aquela que os leitores encontram no livro. Kyle começou a escrever sua autobiografia em 2010, um ano depois de concluir seu quarto período de serviço militar no Iraque.

    No livro, ele alude aos inimigos como "selvagens" e descreve o "mal desprezível" que encontrou no Iraque.

    "O que temos é um vislumbre desse homem em um momento particular no tempo", explicou Hall. "Ele tinha passado uma década em guerra ou treinando para a guerra. Em alguns trechos, ele soa brutal, mas isso foi o que nós criamos. É isso o que essas pessoas precisam ser."

    Hall entregou o primeiro rascunho de seu roteiro no dia 1° de fevereiro de 2013.

    No dia seguinte, Chris Kyle foi morto por um ex-marine que vinha tentando ajudar. Brad Cooper, que estava produzindo o filme e seria seu protagonista, só tinha tido um encontro de cinco minutos com Kyle.

    A viúva de Kyle, Taya, deu aos responsáveis pelo filme acesso a vídeos caseiros, cartas e uma década de e-mails. "Jason e eu passamos horas ao telefone", contou. "Ele me ligava a qualquer hora do dia ou da noite, em momentos em que eu só precisava chorar, desabafar ou discutir alguma coisa."

    Hall contou que, depois disso, o roteiro mudou. "A primeira versão, que eu tinha escrito sob a tutela de Chris, era um filme de guerra." Então, o enfoque do filme se deslocou para o relacionamento entre Chris e Taya e as dificuldades que Chris enfrentou para se readaptar à vida de civil.

    Mustafa, sniper iraquiano que é uma figura de destaque no filme, aparece apenas de passagem no livro. "Eu realmente peguei no pé de Chris sobre esse assunto. Ele disse que achava muito possível que esse sujeito
    tivesse matado seu amigo e que não queria eternizá-lo no livro", disse Hall.

    O filme também mostra o irmão de Kyle, Jeff, um marine, se queixando sobre a guerra. "Jeff não teve esse momento na vida real", comentou Taya Kyle. Mas milhões de outros veteranos de guerra, sim. "Jeff entende que
    havia necessidade disso no filme", acrescentou. "Mas vai ser difícil para ele suportar isso."

    Políticos e analistas discutem o significado e as intenções do filme, que já recebeu indicações ao Oscar por seu roteiro e ator principal, entre outras categorias.

    "É muito fácil dizer que o filme é isso ou aquilo", disse Cooper.

    "Para mim, Chris foi uma figura totalmente humana. Em nenhum momento precisei passar do ícone ao humano. Eu estudei um homem e tentei encarná-lo."

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