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    Proibido de filmar, Panahi envia 'Táxi' ao Festival de Berlim

    LUCAS NEVES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BERLIM

    09/02/2015 02h05

    A poltrona reservada a Jafar Panahi no monumental Berlinale Palast, principal sala de projeções do Festival de Berlim, ficou vazia de novo.

    Mas o cineasta iraniano proibido de filmar e de sair de seu país fez chegar aos curadores "Táxi", seu terceiro (e talvez mais afiado) longa-metragem clandestino.

    Revelado por "O Balão Branco" (1995) e "O Círculo" (2000), que receberam prêmios em Cannes e Veneza, Panahi passou três meses na cadeia em 2010. Estava rodando um documentário sobre os protestos que se seguiram à (contestada) reeleição de Mahmoud Ahmadinejad. Mais tarde, foi condenado a seis anos de prisão e impedido de fazer filmes, dar declarações públicas ou viajar ao exterior por 20 anos. Nada que o tenha calado.

    Johannes Eisele/AFP
    Display com foto do diretor iraniano Jafar Panahi em frente ao Palácio da Berlinale
    Display com foto do diretor iraniano Jafar Panahi em frente ao Palácio da Berlinale

    Em 2011, "Isto Não É um Filme" convocava amigos e colaboradores do diretor para registrar seu cotidiano em prisão domiciliar -ninguém poderia acusá-lo de descumprir a pena: ele estava diante, não atrás da câmera. Dois anos depois, reincidia com "Cortinas Fechadas", em que deslocava para um alter ego (não por acaso, um roteirista) as ruminações sobre censura e resistência silenciosa.

    Em "Táxi", Panahi sai do confinamento doméstico, instala uma microcâmera no para-brisa do bólido do título e cruza Teerã como chofer -cortês, é certo, mas absolutamente desprovido de senso de direção. Entre os passageiros há uma professora que critica a arbitrariedade da aplicação da pena de morte pela sharia (lei islâmica), um vendedor de
    DVDs piratas que reconhece o cineasta por debaixo do disfarce e a sobrinha do diretor.

    Nunca se sabe o que é realidade ou encenação no perfil dos personagens ou em suas interações com o "motorista". Além do enigma ficção/documentário, Panahi se serve do estúdio sobre rodas para retomar outros temas que lhe são caros. A saber, o sexismo no Irã, o autoritarismo obscurantista do regime islâmico e o cinema tanto como espelho crítico dessas chagas quanto como unguento eventual para aliviá-las, pela via do jogo e do riso.

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