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    Crítica: Carisma e veia cômica de Nilton Bicudo são pilar de espetáculo

    GUSTAVO FIORATTI
    COLABORACÃO PARA A FOLHA

    09/02/2015 02h15

    Existem histórias que se dedicam a mostrar como passam os dias, às vezes longos como em textos de Tchékhov. Outras tomam os minutos como unidade de tempo, e o filme "Corra, Lola, Corra" (1998), de Tom Tykwer, pode ser um bom exemplo, com a protagonista correndo para salvar o namorado da morte.

    A peça "A Graça do Fim", último texto do dramaturgo e diretor Fauzi Arap, que morreu com câncer em 2013 aos 75 anos, faz-nos sentir o passar das horas. Reflexo de um sentimento da aproximação da morte? Com certeza. Mas também há no caldo espesso da espera outro ingrediente: o isolamento, a solidão.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Os atores Nilton Bicudo (à frente) e Cleiton Santos na peça
    Os atores Nilton Bicudo (à frente) e Cleiton Santos na peça

    O protagonista é um velho (interpretado por Nilton Bicudo) que, embora necessite de cuidados, rejeita a presença de familiares, uma decisão preventiva talvez, uma vez que ele considera serem os familiares que não o querem por perto. Entra em cena a figura de um enfermeiro interpretado por Cleiton Santos.

    AMBIGUIDADE

    O carisma e a veia cômica de Bicudo, dirigido por Elias Andreato também no ótimo "Myrna Sou Eu" (texto de Nelson Rodrigues, que está no teatro Eva Herz), tornam-se outro pilar do espetáculo. Por trás da comédia que amalgama a relação dos personagens, a palavra "graça" surge ambígua, evocando tanto o riso como um alívio derradeiro.

    Nesse sentido, o espetáculo não é apenas psicológico, vai se tornando mais sombrio conforme aproxima-se do fim. Músicas entre cenas e ritmo seco afastam o risco da pieguice, mas não a melancolia que se avoluma desde o início, e isso é bom.

    Há um pouco de cheiro da naftalina escondido por trás dos móveis, no entanto. Ainda que caracterize um personagem ranzinza, a peça expõe seu discurso contra a modernidade, contra a televisão.

    A GRAÇA DO FIM
    ONDE Centro Cultural Fiesp, av. Paulista, 1.313, tel. (11) 3146-7406
    QUANDO sex. e sáb., às 20h30, dom., às 19h30; até 22/2
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    AVALIAÇÃO bom

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