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    Comunidade reúne 38 mil fãs de livros eróticos

    GABRIELA SÁ PESSOA
    DE SÃO PAULO

    11/02/2015 02h10

    A empresária Simone Félix, 29, tem na ponta da língua o calendário de lançamentos de romances eróticos no Brasil. Ela não perde um evento do gênero.

    De lápis no olho e batom pink, uma pulseira dourada com uma miniatura da torre Eiffell se destaca no visual de Simone. "É igual à que o Christian Grey deu para a Anastasia no livro", explica, mostrando os detalhes da bijuteria que mandou fazer.

    O título em questão é o best-seller "Cinquenta Tons de Cinza", de E.L.James.

    Ernesto Rodrigues/Folhapress
    Leitoras se reúnem em lançamento de romance erótico 'Easy', de Tammara Webber, na Livraria Cultura em São Paulo
    Leitoras se reúnem em lançamento de romance erótico 'Easy', de Tammara Webber, na Livraria Cultura em São Paulo

    Publicado pela Intrínseca em 2012, a trilogia de romances classificada como "soft porn" (pornô leve) vendeu 5,5 milhões de exemplares no país e é uma espécie de fetiche para leitoras que, como Simone, transformaram-se em consumidoras vorazes do gênero.

    "Chega a ser assustador, elas leem muito", diz Quézia Cleto, editora da Paralela, selo da Companhia das Letras que tem eróticos no catálogo.

    Atendendo a pedidos de fãs, a casa comprou os direitos de tradução da série "Sinners on Tour", de Olivia Cunning. "Dentro da ficção, é o gênero que mais vende e, ao mesmo tempo, sofre um certo preconceito por não ser tão resenhado", comenta Cleto.

    HOMEM NÃO ENTRA

    A divulgação do que há de novo na literatura erótica depende do boca a boca entre leitoras, que se organizam em comunidades online.

    Em fóruns como o grupo do Facebook "Romances e Livros Hot", com quase 38 mil membros, elas trocam impressões sobre leituras, tiram dúvidas afetivas e combinam encontros para falar de erotismo e literatura. Homem não entra: o papo é só entre garotas, que em geral têm entre 20 e 30 anos.

    "A gente se torna amiga e quebra alguns tabus. Algumas se descobrem sexualmente [nas conversas]", diz Patrícia Lima, 25, criadora do "Romances e Livros Hot".

    A união das leitoras também faz a força de autoras nacionais, como a professora capixaba Nana Pauvolih, 40 anos, que publica seu primeiro romance erótico, "Redenção de Um Cafajeste", em março pela Rocco.

    Com mais de 20 mil exemplares de livros digitais vendidos de maneira independente pela Amazon, ela triplicou sua renda e deixou o emprego como professora.

    A editora de Pauvolih, Karina Pinno, da Rocco, explica a aposta nesse novo perfil de leitora: "Ela busca livros eróticos em plataformas digitais. São românticos como um novelão, mas abriram a porta do quarto".

    "É como no cinema: você mostra o amasso do casal na cama. A leitora passou a ver isso na literatura", completa.

    CHICOTES

    Entre quatro paredes, a paixão por "Cinquenta Tons" ampliou a clientela de artigos eróticos. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Mercado Erótico, divulgada em fevereiro, o mercado desses produtos cresceu 35% desde que a trilogia de E.L.James chegou às livrarias.

    As cenas de dominação e sadomasoquismo, que caracterizam a relação entre Grey e Anastasia, aumentaram a oferta desse fetiche em 60% nas prateleiras do país, e "brinquedos" como algemas e chicotes venderam 28% mais.

    Simone Félix dispensa o "sado", mas conta que a leitura de eróticos inspirou a relação com o marido. "'Cinquenta Tons' salvou relacionamentos, viu? Abriu a mente de algumas mulheres."

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