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    Itamaraty reduz gasto com cultura em 26%

    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA

    17/02/2015 03h20

    O que têm em comum a difusão da culinária peruana pelo mundo e o sucesso internacional do pop coreano? Ambos receberam incentivos dos governos locais e se tornaram protagonistas na diplomacia cultural de seus países.

    Dar mais atenção a essa promoção no exterior foi um dos pontos destacados pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, ao reassumir o cargo em janeiro.

    "Um país que tem a importância mundial do Brasil não pode descuidar das relações culturais com outros países", afirmou ele ao realizar o primeiro discurso à frente de sua nova gestão na pasta.

    A promoção da cultura brasileira no exterior, porém, conta com um orçamento enxuto, segundo dados fornecidos pelo MinC (Ministério da Cultura) à pedido da Folha.

    Desde 2011, a pasta desembolsou R$ 30 milhões anuais para ações de promoção da cultura no exterior –o valor já inclui recursos captados via Lei Rouanet. Esse montante corresponde a menos de 2% do gasto total do ministério em 2014 (R$ 1,6 bilhão).

    Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores, também responsável por este tipo de ação, passou por redução no orçamento do setor: na última década, os recursos destinados à cultura caíram 26%, chegando a R$ 29 milhões no ano passado (eram R$ 39,2 milhões em 2004).

    "Ainda precisamos de um investimento maior. Avançou muito, mas precisa de muito mais", diz Antônio Grassi, ex-presidente da Funarte, órgão do MinC para fomento às artes.

    Diretor-executivo do Instituto Inhotim, ele pondera que a maior presença no exterior também tem repercussão interna, com influência da experiência internacional no trabalho do próprio artista.

    ESTEREÓTIPOS

    Esse tipo de promoção tem papel de destaque na política "soft power" do país, reforça uma imagem positiva do Brasil no exterior e dissipa eventuais estereótipos da cultura nacional.

    Em termos concretos, a diplomacia cultural ainda traz dividendos para o país.

    Guiomar de Grammont, doutora em Literatura Brasileira pela USP, aponta como exemplo o aumento de recursos arrecadados pelo Brazilian Publishers, projeto que incentiva editoras brasileiras a venderem direitos autorais e livros para outros países.

    Em 2012, a iniciativa contabilizou um total de US$ 2,7 milhões em exportações. No ano seguinte, o valor chegou a US$ 3 milhões (R$ 8,2 milhões). Ela pondera, no entanto, que "há muito a fazer".

    "A cultura é uma das maiores fontes de divisas no mercado internacional. (...) É preciso pensar uma política regular e densa de difusão da nossa língua e da nossa literatura no exterior", afirma a professora, curadora da homenagem ao Brasil no Salão do Livro de Paris, em março.

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