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    Símbolo do garage rock ressurge em Austin

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    18/02/2015 02h22

    No domingo, 10 de maio, uma alucinação coletiva tomará de assalto Austin, no Texas.

    Como num "flashback" de ácido, quatro amigos –Roky Erickson, Tony Hall, John Ike Walton e Ronnie Leatherman– surgirão em um palco depois de quase meio século, no primeiro show da formação original do 13th Floor Elevators desde 1968. A apresentação faz parte do festival Levitation, que reunirá mais de 60 bandas, incluindo Flaming Lips, Tame Impala, Primal Scream e Spiritualized.

    O 13th Floor Elevators é considerado um dos "pais" do rock psicodélico. Formado em Austin no finzinho de 1965, durou pouco mais de quatro anos e lançou quatro discos de estúdio. Teve enorme influência em gerações de músicos.

    Guy Clark/Michael Ochs Archives/Getty Images
    O guitarrista Roky Erickson durante apresentação em 1967
    O guitarrista Roky Erickson durante apresentação em 1967

    De punks como Ramones e Dead Boys, passando por bandas indie como R.E.M., Flaming Lips e Big Star e chegando a grupos recentes que ressuscitam a lisergia no rock, como Tame Impala, todos ajoelham no altar dos Elevators e de seu líder, Roky Erickson.

    Erickson, 67, tem uma das biografias mais tristes do pop. No meio dos anos 1960, era um fenômeno, tendo fundado o 13th Floor Elevators aos 18 anos e composto um clássico do rock de garagem, "You're Gonna Miss Me", considerada precursora do punk.

    Os Elevators faziam uma inusitada mistura de blues e country com sons mais pesados e psicodélicos. Usavam LSD e maconha, e falavam das viagens que experimentavam em suas letras.

    Numa época em que os EUA estavam em guerra no Vietnã, a contracultura se espalhava pela América do Norte e jovens se rebelavam. A música anárquica de Erickson foi recebida como uma afronta à caretice reinante.

    Mas durou pouco: em 1969, Erickson foi preso pela posse de um cigarro de maconha.

    Passou três anos e meio em um hospital psiquiátrico. Quando saiu, era outra pessoa: assinou um documento afirmando que seu corpo estava possuído por um marciano e começou a encher sua casa de televisores, que deixava ligados, fora de sintonia, 24 horas por dia e em volume ensurdecedor.

    Depois de quase 20 anos vivendo da caridade de amigos, Erickson foi resgatado por fãs e por um irmão mais novo, e começou a reativar a carreira.

    Lançou discos solo e excursionou com o grupo The Black Angels, também de Austin. Mas esse show será a primeira vez, desde o fim do 13th Floor Elevators, em que ele tocará com os ex-parceiros (menos o guitarrista Stacy Sutherland, morto a tiros pela esposa, em 1978). Deve ser memorável.

    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e autor do livro "Pavões Misteriosos" (Três Estrelas)

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