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    Monique Gardenberg retrata mundo apocalíptico em novo espetáculo

    MARIA LUÍSA BARSANELLI
    DE SÃO PAULO

    20/02/2015 02h45

    Em tempos de tensão entre Oriente e Ocidente, quando a lembrança de atos terroristas permanece fresca em nossa memória, "Hora Amarela", peça do norte-americano Adam Rapp, parece ter ficado ainda mais contemporânea.

    Uma guerra misteriosa e violenta, que deixou uma grande cidade em estado de sítio, é o mote do espetáculo, que estreou há três anos em Nova York com encenação do próprio dramaturgo. O texto ganhou uma versão brasileira no ano passado, no Rio de Janeiro, e é esta a montagem que chega ao Sesc Bom Retiro nesta sexta-feira (20).

    "O espetáculo se tornou assustadoramente atual nos últimos anos, quando presenciamos guerras com exércitos de mercenários, a barbárie do Estado Islâmico, a violência das grandes nações", diz Monique Gardenberg, que dirige a montagem nacional.

    Nesse ambiente distópico, Ellen (papel de Deborah Evelyn) vive há três meses escondida no porão de seu prédio. Seu marido desapareceu após deixar o esconderijo na "hora amarela" –período do dia em que seria seguro sair às ruas– e ela não tem mais conhecimento do que se passa do lado de fora.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    As atrizes Deborah Evelyn (esq.) e Isabel Wilker em cena da montagem "Hora Amarela", dirigida por Monique Gardenberg
    Deborah Evelyn (esq.) e Isabel Wilker na montagem "Hora Amarela", dirigida por Monique Gardenberg

    Sozinha em seu abrigo, Ellen é surpreendida pela chegada de estranhos: um professor (Michel Bercovitch), uma viciada em drogas (Isabel Wilker) e um fugitivo sírio (Daniel Infantini), entre outros –Darlan Cunha e Daniele do Rosario completam o elenco. Mas não sabe se esses desconhecidos representam uma ameaça, uma ajuda ou até mesmo uma possibilidade de afeto.

    "A vida na Terra se transfere para o abrigo subterrâneo onde esses personagens, aterrorizados com a fúria dos que estão em cima, procuram entender as razões para essa crueldade", conta a diretora.

    Não fica claro quem é o inimigo dessa guerra. Apesar de, no início da trama, a protagonista acreditar que se trata de um povo muçulmano, logo essa ideia é desconstruída, explica Deborah. "O espetáculo fala da demolição dos preconceitos."

    Enquanto a montagem original se passa em um apartamento de Nova York, na adaptação brasileira foram cortadas as referências aos EUA e situou-se a história em um espaço indeterminado.

    BUNKER

    Para o cenário, Daniela Thomas criou um bunker, no qual se passa toda a ação. Nesse ambiente claustrofóbico, é como se a guerra estivesse sobre a cabeça dos atores, explica Monique. "E o temor do que vem de cima oferece uma segunda leitura: o temor a Deus", conclui.

    Une-se a esses elementos a trilha sonora de Lourenço Rebetez, que complementa a atmosfera de tensão e medo em que vivem os personagens.

    Não é a primeira vez que Monique Gardenberg dirige um texto de Rapp (ela já esteve à frente de "Inverno da Luz Vermelha" em 2010).

    OLHAR FEMININO

    Mas a diretora afirma nunca antes ter feito algo parecido com "Hora Amarela", que se aproxima da ficção científica, gênero pelo qual sempre teve certa resistência.

    "O espetáculo trata de uma guerra fictícia, sem inimigo claro, sem razão específica, tempo ou povo", conta. "Então, procurei enxergá-lo como uma metáfora sobre a existência."

    O convite para dirigir veio da atriz Deborah Evelyn (com quem Monique havia trabalhado na peça "Baque", em 2005) e da idealizadora do projeto: a atriz Mônica Torres, mãe de Isabel Wilker, que assistiu à montagem americana e adquiriu os direitos da obra.

    "Eu achava importante nesse texto, que é tão duro, tão masculino, ter um olhar feminino", diz Deborah.

    HORA AMARELA
    QUANDO sex., às 20h, sáb., às 19h, dom., às 18h; até 29/3
    ONDE Sesc Bom Retiro - al. Nothmann,185, tel. (11) 3332-3600
    QUANTO de R$ 9 a R$ 30
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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