• Ilustrada

    Friday, 03-May-2024 19:12:21 -03

    Análise: Indicados fora do padrão lembram que Oscar é sobre cinema

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    22/02/2015 02h03

    Não dá para reclamar do Oscar 2015. Entre os oito indicados da categoria principal, três fogem do padrão "filme de Oscar": "Boyhood: Da Infância à Juventude", "O Grande Hotel Budapeste" e "Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)".

    Os filmes com as propostas estéticas mais originais neste Oscar são justamente aqueles com o maior número total de indicações. E, dos três, deverá sair o vencedor do prêmio de melhor filme.

    Boa parte da cobertura da imprensa sobre "Boyhood" se concentrou em seu processo de filmagem, que registrou os atores/personagens ao longo de 12 anos –o que, sem dúvida, contribui para a força do filme.

    Mas "Boyhood" vai muito além do truque temporal. Seu diretor, Richard Linklater, capta certas nuances das relações entre pais e filhos, homens e mulheres, que o cinema raramente alcança.

    "Birdman", ao contrário, é todo artifício. Suas "ousadias" –o falso plano-sequência que dura o filme todo, a trilha que é um longo solo de bateria, a escalação de Michael "Batman" Keaton para o papel de Birdman– não são essenciais à narrativa.

    Mas é preciso dar crédito ao cineasta Alejandro González Iñárritu: ele deixou de lado o chororô de filmes como "21 Gramas" (2003) e "Babel" (2006) e descobriu que o humor também confere grandeza a uma obra –o que é suficiente para justificá-lo na disputa pelo Oscar.

    O prêmio de melhor filme deve ficar entre esses dois filmes. "Boyhood" parecia uma barbada alguns meses atrás, mas "Birdman" ganhou terreno recentemente com prêmios importantes.

    Qual seria o vencedor mais justo? Bom, justiça não tem nada a ver com prêmios em geral –e com o da Academia de Hollywood em particular. Mas, para este crítico, "Boyhood" irá permanecer na história do cinema, muito além da temporada do Oscar. "Birdman"? Há controvérsias.

    SUPRASSUMO

    "O Grande Hotel Budapeste" pode não ser o melhor Wes Anderson e não deverá ganhar o Oscar principal, mas é o suprassumo de um estilo personalíssimo de imaginação visual –e o fato de ser indicado em um prêmio que tende à padronização já merece ser celebrado.

    Os outros cinco candidatos não fogem do figurino "filme de Oscar". "A Teoria de Tudo" e "O Jogo da Imitação" entram na cota das biografias britânicas de gênios sofridos com direção quadrada e atuações redondas; em anos anteriores, ela foi preenchida por filmes como "O Discurso do Rei" (2010) e "Uma Mente Brilhante" (2001).

    "Selma" representa os dramas históricos pomposos e politicamente corretos, tal como "12 Anos de Escravidão" (2013) ou "A Lista de Schindler" (1993).

    "Sniper Americano" ocupa o papel do blockbuster com pedigree que é visto como um filme menor de seu diretor (no caso, de Clint Eastwood) –que já foi desempenhado por "Os Infiltrados" (2006) e "Gladiador" (2000).

    INDEPENDENTE

    E, por fim, "Whiplash: Em Busca da Perfeição" é o pequeno filme independente que ficou grande graças sobretudo a seus atores, como antes foram "Sideways - Entre Umas e Outras" (2004) e "O Lado Bom da Vida" (2012).

    Embora os "filmes de Oscar" ainda sejam maioria, a indicação de "Boyhood", "O Grande Hotel Budapeste" e, em menor grau, de "Birdman" nos dá a boa (e ilusória) sensação de que este é um concurso de cinema –e não de vestidos, piadas e grana.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024