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    Jovens criam publicação feminista on-line para público adolescente

    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    21/02/2015 02h25

    Para um leitor desavisado, a "Capitolina" pode parecer, à primeira vista, só mais uma revista para adolescentes: na edição de janeiro, por exemplo, há textos sobre como lidar com ciúmes, como deixar o cabelo curto crescer, e como fazer cremes para a cabeleira em casa.

    "A diferença é o enfoque", diz Sofia Soter, 23, uma das editoras da publicação on-line, que se propõe a lidar com questões da puberdade com viés feminista e é produzida por 74 jovens de 17 a 27 anos.

    "Em vez de ensinar as meninas como conseguir o próximo namorado, dizemos que elas não devem ligar se não arranjarem um", afirma.

    Ana Maria Sena
    Ilustração de Ana Maria Sena para a revista 'Capitolina'
    Ilustração de Ana Maria Sena para a revista 'Capitolina'

    Também editora, a estudante de letras carioca Clara Browne, 20, se diz "loucamente fã de 'Dom Casmurro'", clássico romance de Machado de Assis (1839-1908).

    Por isso, quando ela, Sofia e mais uma amiga, a também carioca Lorena Piñeiro, 25, decidiram criar uma revista feminista on-line, logo propôs que a publicação levasse o nome da principal personagem feminina do livro, Capitolina –a Capitu.

    O nome pegou e assim surgiu a revista, que em sua 11ª edição tem cerca de 3.000 acessos por dia, 12,6 mil curtidas em sua página do Facebook e contas em plataformas como Tumblr, Instagram, Twitter e YouTube.

    A julgar pela pouca idade –e o grande número– das colaboradoras, a organização da revista espanta. Separadas em oito seções, que discutem temas como moda, relacionamentos e sexo, tecnologia etc., cada qual com uma coordenadora, as jovens fazem reuniões via Facebook para decidir quem será a responsável por cada texto, vídeo ou ilustração.

    A cada mês, por meio de votação on-line, escolhe-se um tema para a revista. A escolha do assunto deve gerar um texto por dia.

    Em fevereiro de 2015, por exemplo, com o tema "comunidade", há textos tanto sobre democracia quanto relatos de colaboradoras de famílias judias, católicas e ateias sobre viver com familiares religiosos –ou não– na adolescência.

    DIVERSIDADE

    Segundo as editoras, a revista se propõe a trazer meninas de diferentes perfis e regiões para participar da produção.

    É o caso de Maria Clara Araújo, 18, pernambucana e transexual, autora da série de textos "Transexualidade na Escola", em que aborda questões como o uso do banheiro e o respeito ao nome social no ambiente escolar para adolescentes travestis e transexuais.

    Já Luciana Rodrigues, 19, mora em Macapá, capital do Estado do Amapá, no extremo norte do país. É a única colaboradora da região na revista, que é feita em grande parte por paulistanas e cariocas.

    "Estavam procurando diversificar o perfil das meninas e eu sou descendente de indígenas", conta ela, que é estudante de letras na Unifap (Universidade Federal do Amapá) e escreve sobre relacionamentos e sexo.

    "A mídia tradicional foca sempre na mulher branca, de cabelo liso, magra, rica, heterossexual", afirma Sofia. "Queríamos que todas as mulheres se sentissem representadas na 'Capitolina'."

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