Um capítulo do recém-lançado livro "Prazeres Ilimitados", do filósofo Fernando Muniz, foi publicado em dezembro em outro título editado pela Nova Fronteira, "Pecar e Perdoar", do historiador Leandro Karnal.

O erro teria sido percebido há algumas semanas por Karnal, que então alertou a Nova Fronteira sobre o problema. No último dia 11, poucos dias após seu livro sair, Muniz foi informado do caso.

Sob o título "Dores Góticas, Volúpias Privadas", o texto de Muniz, de cerca de 30 páginas, aborda o prazer e a dor –assunto que também integra o livro de Karnal, sobre os sete pecados capitais.

O texto era inédito. Muniz diz ter escrito o livro em seis meses, a convite, e enviado o material apenas para a editora.

À Folha o filósofo afirmou que a Nova Fronteira assumiu "total responsabilidade para o que ela chama de erro e prometeu fazer um recall do livro publicado com o meu capítulo".

"Embora o recall não vá retirar de circulação os livros já vendidos, entendi que o meu livro –entre outros– seria o maior prejudicado no caso de uma batalha judicial. Sendo assim, aceitei a proposta oferecida pela editora de minimizar os males para evitar um desastre ainda maior", disse o autor.

	Divulgação
	Capa do livro 'Pecar e Perdoar', de Leandro Karnal, e 'Prazeres Ilimitados', de Fernando Muniz

Segundo a Nova Fronteira, 930 livros foram distribuídos para as livrarias. A editora não divulga quantos livros foram impressos.

Em nota, afirmou que "houve um erro na finalização da produção gráfica e o livro 'Pecar, Perdoar' foi impresso com um capítulo indevido. O problema já está sendo resolvido pela editora, que trocará os livros sem custo nenhum para os leitores". O e-mail para trocas é o livros@ediouro.com.br.

PRAZER E DOR

"Prazeres Ilimitados" aborda o prazer da Grécia antiga aos dias de hoje. O capítulo cinco, que foi parar no livro de Karnal, trata da virada cristã em direção à valorização da dor. Segundo Karnal, o texto entrou no lugar de seu capítulo sobre o pecado da ira.

"Meu livro trata dos sete pecados, mas o capítulo da ira simplesmente é pulado. O texto também aborda o hedonismo, e creio que isso deu origem ao equívoco", disse Karnal.

O historiador definiu o problema como "um grave e extenso erro tipográfico". "O editor cuidou dos dois livros ao mesmo tempo. Não considero ninguém intencionalmente responsável. Acho que houve uma confusão, sem má fé. Mas é curioso porque os estilos são completamente diferentes", afirmou.

Karnal diz ter demorado a perceber o problema porque não tem o costume de reler seus livros depois de publicados. "Descobri quando fui fazer o audiolivro. Só então reli e vi que tinha um capítulo que não era meu."

Curiosamente, a edição de "Pecar e Perdoar" que chegou as livrarias inclui uma nota explicativa de Karnal no capítulo que entrou por engano.

A nota, numa das menções a Epicuro (filósofo grego associado à busca obsessiva pelo prazer), esclarece: "Epicurismo e hedonismo não são a mesma coisa. Mas, como trato da visão religiosa do prazer, repito aqui a fusão que o pensamento moral cristão produziu para ambos".

Questionado pela Folha sobre como incluiu uma nota sem perceber que o texto não era dele, o historiador disse que estava no Japão quando enviou a nota ao editor, por email, para que fosse incluída no capítulo original, porque achou que não tinha esclarecido o tema devidamente em seu texto.