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    Crítica: Underwood se distancia de Cunha e vive dias de Dilma Rousseff

    VERA MAGALHÃES
    EDITORA DO PAINEL

    27/02/2015 02h20

    A comparação mais óbvia de Frank Underwood, protagonista de "House of Cards", com o cenário político brasileiro sempre foi com Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ambos são políticos habilidosos, inteligentes, que não medem esforços para atingir objetivos, focados e ambiciosos.

    Pois na terceira temporada, quando chega à Casa Branca, no exato momento em que Cunha atinge a presidência da Câmara, Underwood passa a enfrentar dilemas que se aproximam mais do dia a dia de Dilma Rousseff que o do peemedebista.

    A presidente, fã confessa do seriado, há de sorrir diante da ironia da coincidência da conjunção de crises externa, política e econômica enfrentada por Underwood.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Identificará uma impressionante semelhança na ideia de nomear a advogada-geral do país para a Suprema Corte, e certamente achará sonoro o nome American Works, o plano marqueteiro para criar 10 milhões de empregos, tirar os EUA da crise e catapultar a candidatura à reeleição.

    Impossível não lembrar, diante da dificuldade de Underwood em obter a indicação de seu partido para a disputa, do "Volta Lula" que atormentou Dilma.

    Da mesma forma, a existência de um ex-assessor tão próximo dos Underwood incomodado e disposto a contar o que sabe dos bastidores do poder fará com que os espectadores brasileiros pensem nos delatores da Lava Jato, instados a falar depois de meses presos em Curitiba.

    Por fim, existe a imprensa e sua mania de questionar. A correspondente Ayla Sayyad, do fictício "Wall Street Telegraph", substituta da finada Zoe, seria considerada integrante do "partido da imprensa golpista" por incomodar com perguntas indesejáveis.

    Com tantos ingredientes familiares a qualquer um que acompanha, como profissional ou observador, a cena política brasileira ou internacional, "House of Cards" mantém os ingredientes que a notabilizaram: verossimilhança, ainda que obviamente as maquinações de Underwood sejam bem mais sofisticadas e interessantes que a vida real, charme, profundo estudo psicológico dos personagens e texto impecável.

    Estão lá a estranha simbiose de Frank e Claire, a primeira-dama que tenta cavar espaço próprio, Doug em suas múltiplas facetas, agora ferido, os assessores ambíguos, os políticos menos brilhantes que se interpõem no caminho de Underwood e as pelo menos três subtramas que se desenrolam a cada episódio.

    Ainda bem que o formato da Netflix permite pausas. Nos seis primeiros episódios disponibilizados à imprensa, é impossível sequer ir ao banheiro. Dilma precisará achar um tempo se quiser ficar em dia com o seriado.

    NA TV/NA INTERNET
    HOUSE OF CARDS
    Estreia da terceira temporada
    QUANDO nesta sex. (27), na Netflix
    AVALIAÇÃO ótimo

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