• Ilustrada

    Sunday, 19-May-2024 15:41:46 -03

    Exposição em São Paulo reconstrói Hilda Hilst por seu próprio olhar

    RAQUEL COZER
    COLUNISTA DA FOLHA

    28/02/2015 02h01

    "Estes dois livros que estou mandando a você são meus últimos", escreveu Hilda Hilst, no final dos anos 1980, ao editor Caio Graco, oferecendo os originais de "Amavisse" e "O Caderno Rosa de Lori Lamby". "Não penso em morrer, não. Apenas desisto de publicar qualquer outra coisa depois", esclareceu.

    O tempo desmentiria a escritora, que ainda lançaria mais de meia dúzia de títulos, mas aquele apelo de momento não convenceu o todo-poderoso editor da Brasiliense. Os dois livros seriam publicados, entre 1989 e 1990, pela independente Massao Ohno.

    A carta de Hilda a Caio Graco é um dos 530 itens, entre fotos, cartas, rascunhos, desenhos, fac-símiles e livros, da Ocupação Hilda Hilst, instalada a partir deste sábado (28) no térreo do prédio do Itaú Cultural, em São Paulo.

    A rejeição de Caio Graco não aparece na mostra, embora fique subentendida. Hilda falaria do caso em entrevista de 1994: o editor considerou "O Caderno Rosa de Lori Lamby", seu primeiro livro pornográfico, "escabroso".

    Claudiney Ferreira, gerente do Núcleo de Audiovisual e Literatura do Itaú Cultural, diz que a voz de Hilda aparece assim, sem réplica ou explicação, em toda a ocupação –com base no conceito de "exposição na primeira pessoa do singular"–, a partir do acervo dela na Unicamp e na Casa do Sol (atual Instituto Hilda Hilst), em Campinas, onde vivia.

    "Não vimos necessidade de textos sobre a produção e a história dela. Ela refletia tanto sobre tudo que não precisava de intermediários."

    A personalidade da autora também está presente na cenografia, que reproduz cores e materiais da Casa do Sol. Em vez dos sintéticos comuns a exposições anteriores do Itaú Cultural, optou-se por material cru, como linho e madeira, e iluminação baixa.

    Para emular o estilo rústico da Casa do Sol, dois tons de rosa foram misturados com areia fina nas paredes da ocupação, que recebeu os retratos que normalmente ficam na sala e nos quartos de Hilda.

    Além do "Caderno Rosa", os livros "Qadós" (1973), "Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão" (1974), "A Obscena Senhora D" (1982) e "Com Meus Olhos de Cão" (1986) compõem núcleos que apresentam obsessões de Hilda, como criar listas e desenhar.

    Um painel lista perguntas presentes em livros da autora, como "E se eu ficasse eterna?", em "Da Morte. Odes Mínimas", e "Como é essa coisa da gente se pensar?", em "Tu Não te Moves de ti", ambos de 1980.

    Neste sábado (28), às 12h15, haverá na ocupação leitura de "Com os Meus Olhos de Cão", e, às 19h, do monólogo "A Obscena Senhora D". Às 21h, Zeca Baleiro canta poemas de Hilda no Auditório Ibirapuera.

    OCUPAÇÃO HILDA HILST
    QUANDO abertura neste sábado (28), às 11h; de ter. a sex., das 9h às 20h; sáb., dom. e feriados, das 11h às 20h; até 21/4
    ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149, tel. (11) 2168-1778
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024