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    História de brasileiro executado na Indonésia é contada em livro

    PATRÍCIA CAMPOS MELLO
    DE SÃO PAULO

    28/02/2015 02h00

    "A vida me encaminhou para ser um traficante de drogas, mas eu sou um cara legal."

    Na última conversa mais longa que teve com o jornalista da Folha Ricardo Gallo, em novembro de 2014, o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira mostrou-se arrependido.

    "Fiz uma burrada", dizia ele, referindo-se à sua prisão na Indonésia, após ser flagrado em 2003 entrando com 13,4 kg de cocaína nos tubos de sua asa delta no aeroporto de Jacarta, capital do país.

    A Justiça da Indonésia condenou Marco à morte em 2004 e ele passou 11 anos preso no país. Mas sempre achou que iria escapar do pelotão de fuzilamento.

    Em "Condenado à Morte "" A História do Primeiro Brasileiro a Receber a Pena Capital e Ser Executado no Exterior", do selo editorial Três Estrelas, do Grupo Folha, Gallo conta a história do esportista que cresceu na classe média alta do Rio, foi um dos pioneiros da asa delta e acabou se transformando em traficante internacional de drogas.

    14.jan.2015/Divulgação
    O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira (à dir.) e o advogado Utomo Karim, em janeiro
    O brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira (à dir.) e o advogado Utomo Karim, em janeiro

    Viajou mais de dez vezes levando cocaína para a Indonésia e trazendo skunk (tipo de maconha) para o Brasil.

    "Mesmo preso, ele vivia em um universo paralelo, estava sempre animado, de alto-astral", conta Gallo.

    Com o dinheiro que a tia mandava, Marco comprava regalias na prisão, como TV, frango congelado, direito a usar o celular. Pagava para ter relações sexuais com prostitutas e sua mãe mandava revistas pornográficas do Brasil. Por falta de cuidados na prisão e pelo uso do shabu-shabu (gíria da região para a metanfetamina cristal), perdeu quase todos os dentes.

    O carioca achava que o governo brasileiro conseguiria fazer algum tipo de acordo, a pena de morte seria transformada em prisão perpétua e ele poderia ser libertado antes.

    Mas sua sorte mudou no fim do ano passado, quando o presidente indonésio, Joko Widodo, assumiu. Linha-dura, Widodo anunciou que não daria clemência para os traficantes condenados à morte.

    "Ricardo, sou eu, Curumim, please me liga q eu preciso falar com vc urgente." Essa foi a mensagem de texto que Marco, que tinha apelido de Curumim, mandou para Gallo no dia 12 de janeiro. Ele havia lido em jornais indonésios que poderia ser executado em breve.

    Dois dias depois, guardas entraram na cela dele para informá-lo de que seria executado por pelotão de fuzilamento em 72 horas. Marco ficou tão nervoso que urinou nas calças.

    Editoria de arte/Folhapress

    INSTANT BOOK

    Ao contrário da maioria dos "instant books" –lançados para se aproveitar do interesse por algum evento noticioso recente– "Condenado à Morte" não é um livro superficial, escrito no calor do momento.

    Gallo começou a trabalhar na obra em 2010, um ano depois de ter sido enviado pela Folha para cobrir um fórum de turismo na Indonésia. Ali, o jornalista se inteirou do caso de Marco Archer.

    Desde então, foram 66 mil quilômetros rodados em Cingapura, Rio de Janeiro, Amsterdã, Manaus e Indonésia, inúmeras entrevistas com familiares de Marco, conversas cara a cara com o carioca na prisão indonésia e várias entrevistas telefônicas. Tudo isso transparece na riqueza de detalhes da narrativa.

    O livro estava programado para sair em fevereiro.

    Condenado à Morte
    Ricardo Gallo
    livro
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    "Mas fui atropelado pelos fatos e tive de reescrever os dois últimos capítulos", diz Gallo. Após mais de dez anos de indecisão do governo indonésio e poucos dias antes da finalização do livro, foi anunciada a data da execução.

    O último capítulo se chamava "Condenado ao Esquecimento". Gallo achava que o caso iria se estender por anos, sem que o presidente indonésio respondesse ao último apelo por clemência, e o brasileiro iria continuar na prisão indefinidamente.

    O capítulo passou a ter o nome "Cinco Cruzes de Madeira". Marco foi executado no dia 17 de janeiro amarrado a uma cruz de madeira, por pelotão de fuzilamento, ao lado de outros quatro condenados.

    CONDENADO À MORTE
    AUTOR Ricardo Gallo
    EDITORA Três Estrelas
    QUANTO R$ 34,90 (144 págs.)

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