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    Crítica: Obra retrata complexidade de Sylvia Plath sem mistificações

    MARINA DELLA VALLE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    28/02/2015 02h20

    A pegada pop de "Ísis Americana", biografia da poeta Sylvia Plath (1932-1963) por Carl Rollyson, professor de jornalismo da City University de Nova York, pode irritar alguns leitores e mascarar a competência da pesquisa que embasa o livro.

    Especialmente a comparação insistente com Marilyn Monroe, também biografada pelo autor, que traça paralelos entre a busca pela fama, a sexualidade e o temperamento instável das duas.

    A obra, no entanto, consegue retratar bem a complexidade de Plath, que teve sua vida e aspectos psicológicos incansavelmente explorados em uma série de publicações que, ironicamente, terminam por confundir o leitor por suas discrepâncias.

    Rollyson também se beneficiou de material inédito de arquivos abertos ao longo dos anos após a morte do poeta Ted Hughes (1930-1998), o marido infiel eternamente culpado pelo suicídio de Plath e detentor de seu espólio literário.

    Cortesia de Mortimer Rare Book Room/Smith College
    A poeta americana Sylvia Plath tomando sol em 1946
    A poeta americana Sylvia Plath tomando sol em 1946

    Os imbróglios entre autores e acadêmicos preparando trabalhos sobre a poeta e a irmã de Hughes, Olwyn, responsável por lidar com cessão de uso de materiais de Plath, tornaram-se lendários no mundo literário e respondem por muitas das diferenças entre as várias biografias.

    Parte significativa do material inédito a que Rollyson teve acesso vem do arquivo de Olwyn, vendido à British Library em 2010 e que inclui 41 cartas de Plath e Hughes.

    Ísis Americana
    Carl Rollyson
    livro
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    O autor avisa de saída que não se preocupou em contextualizar a vida de Plath com suas obras e que tampouco procurou explorar os problemas psicológicos da poeta, que, segundo ele, obcecaram os biógrafos anteriores.

    Assim, "Ísis Americana" é um bom ponto de partida para quem busca a mulher, e não a lenda. É um retrato redondo das características contraditórias de Plath –sua índole mercurial; a necessidade de exceder em diversos aspectos da vida; o baque que as decepções, com os outros e consigo mesma, lhe causavam; a megalomania.

    Rollyson destaca dois aspectos importantes para quem busca entender Plath: seu desejo pela notoriedade e sua tendência de mitificar a própria vida. Da morte do pai quando era criança à figura do marido, fatos biográficos são transformados em alegorias que permeiam sua obra até os poemas finais, do livro póstumo "Ariel", que ela afirma que farão sua fama.

    Foi um presságio. O impacto de sua produção e seu fim trágico lhe deram, após a morte, a celebridade e o status mítico que almejava, e um interesse do público que parece longe de se esgotar.

    ÍSIS AMERICANA - A VIDA E A ARTE DE SYLVIA PLATH
    AUTOR Carl Rollyson
    TRADUÇÃO Regina Lyra
    EDITORA Bertrand Brasil
    QUANTO R$ 55 (392 págs.)
    AVALIAÇÃO bom

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