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    Para Renato Teixeira, José Rico foi precursor do estilo 'caipira ostentação'

    DE SÃO PAULO
    DE CAMPINAS

    04/03/2015 02h00

    Morreu nesta terça (3), aos 68, de infarto, o cantor José Alves dos Santos, o José Rico da dupla sertaneja Milionário & José Rico. Ele estava internado em Americana (SP).

    O cantor deixa mulher e dois filhos adolescentes. Ele será enterrado nesta quarta (4), às 15h30, no Cemitério da Saudade, em Americana.

    Nascido em São José do Belmonte (PE), José adotou o nome artístico em homenagem à cidade onde cresceu, Terra Rica (PR). Mudou-se para São Paulo em 1968, onde conheceu Romeu Januário de Matos, que assumiu a alcunha Milionário.

    A dupla foi uma das primeiras a despontar na leva dos "sertanejos modernizados". No livro "Uma História da Música Popular Brasileira", o autor Jairo Severiano explica que, no fim dos anos 1960, houve uma divisão no gênero, entre tradicionalistas e modernos, e estes últimos, como Milionário & José Rico, Sérgio Reis e Leo Canhoto e Robertinho, ganharam força.

    Os músicos foram alçados ao sucesso com o álbum "Estrada da Vida" (1977), que vendeu 200 mil cópias e inspirou filme homônimo (1983) de Nelson Pereira dos Santos.

    O longa teve êxito na China, e a dupla se apresentou no país em 1986. "O povo chinês é meio sertanejo, assim como o do Brasil de muitos anos atrás. Acho que por isso que se identificam com a gente", disse José Rico à época.

    Os músicos se separaram em 1991, mas retomaram a parceria três anos depois.

    Nas eleições de 2014, José Rico concorreu a um cargo de deputado federal pelo PMDB de Goiás, mas não se elegeu.

    De acordo com seus produtores, a dupla fazia em média 15 shows por mês e tinha 29 álbuns gravados. No último show, realizado no domingo (1º), em Osasco, José Rico cantou com dificuldades devido a uma inflamação na perna.

    O cantor era conhecido por sua imagem cheia de ornamentos: correntes douradas e anéis em vários dedos. Também tinha o hábito de pintar de vermelho a unha do mindinho. Rico construía há mais de 20 anos uma mansão com cerca de cem cômodos em formato de castelo na divisa de Limeira com Americana.

    CAIPIRA OSTENTAÇÃO

    "A carreira dele foi marcada por uma afinação preciosa de duas vozes, ainda que o repertório fosse duvidoso", observa o jornalista José Hamilton Ribeiro, autor de "Música Caipira: as 270 Maiores Modas de Todos os Tempos".

    Para o crítico musical Zuza Homem de Mello, "Zé Rico fazia parte do grupo que ficou injustamente com a peja de música sem qualidade. Sua obra é natural, é verdadeira."

    O cantor e deputado federal Sérgio Reis (PRB-SP) diz que Rico foi muito importante para o sertanejo. "Ele modificou os arranjos, colocando os sons de metais."

    "Ele tinha influência da música mexicana e representava um aspecto muito significativo da música caipira", disse o cantor e compositor Renato Teixeira. "E era uma figuraça. Antes do funk ostentação, ele já era o caipira ostentação."

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