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    Marília Gabriela se joga em Tchékhov com Prozac em espetáculo teatral

    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO

    06/03/2015 02h18

    "Se todo mundo tomasse antidepressivos, Tchékhov não teria assunto para escrever", diz a personagem Sonia, da peça "Vanya e Sonia e Masha e Spike".

    Mas o autor do espetáculo, o americano Christopher Durang, poderia ter tomado um balde de Prozac para colocar o autor russo no liquidificador ao escrever o texto que, em 2013, ganhou o Tony (maior premiação teatral dos EUA) de melhor peça do ano.

    Primeira comédia dirigida por Jorge Takla, a versão brasileira tem Elias Andreato (que já fez alguns "tchékhovs de raiz") no papel de Vanya e Marília Gabriela como Masha, interpretada na Broadway por Sigourney Weaver.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Marilia Gabriela e Patrícia Gasspar em cena da peça 'Vanya e Sonia e Masha e Spike'
    Marilia Gabriela e Patrícia Gasspar em cena da peça 'Vanya e Sonia e Masha e Spike'

    Takla diz que assim que comprou os direitos da peça pensou em Marília Gabriela.

    "A Gabi se desnuda, se joga em cena com despudor, não tem medo do ridículo. Imagina uma mulher deste tamanho vestida de Branca de Neve", diz Takla, referindo-se a uma cena em que Masha se fantasia como a princesa do conto de fadas.

    Marília Gabriela interpreta uma atriz de cinema já nos seus 50 e muitos anos ("na peça, na peça!", diz entre risos a atriz e apresentadora, durante entrevista à Folha).

    A trama transcorre durante uma visita de Masha ao irmão Vanya (Andreato) e à irmã adotiva Sonia (Patrícia Gasppar), em que ela leva a tiracolo Spike, seu novo namorado, 30 anos mais jovem.

    Para Marília Gabriela, o "desnudamento" em cena citado por Takla não é problema. "Atuar em teatro é isso, não é? O que é preciso é desnudar minha personagem no palco com minha personagem na vida. Tenho antecedentes", diz ela, que, no início deste ano, saiu do SBT para tocar projetos pessoais –a peça em cartaz é um deles.

    Os protagonistas do texto de Durang ganharam nomes de personagens de peças famosas de Anton Tchékhov (1860-1904) e foram levados de uma província da Rússia de 1900 a uma casa de subúrbio americano na Filadélfia contemporânea.

    É ali que as rivalidades e frustrações explodem. "É o contrário da frase 'O inferno são os outros' [de "Entre Quatro Paredes", de Sartre]. Nesta peça, o inferno somos nós. As pessoas se identificam porque a relação familiar que gera humor é comum a todos", diz Andreato.

    CHOQUE

    Há também o conflito de gerações. Os irmãos de meia-idade e a faxineira, Cassandra (Teca Pereira), são confrontados pelos jovens Spike (Bruno Narchi), ator iniciante e ambicioso, e a aspirante a atriz Nina (Bianca Tadini).

    "As personagens vivem um momento de um mundo que acaba enquanto outro está começando, como na peça [de Tchékhov] 'O Jardim das Cerejeiras'", diz Takla.

    O diretor diz que o autor russo é sua grande paixão e que se emocionou ao ver a montagem de "Vanya e Sonia e..." na Broadway.

    "Num primeiro momento, pensei que tinha gostado tanto porque conhecia as referências. Mas não é preciso conhecer Tchékhov para gostar, tanto que foi o maior sucesso de bilheteria da Broadway em 2013", afirma Takla.

    O humor do texto de Durang, "apesar de não ser óbvio, tem uma relação mais direta com o público contemporâneo", diz Andreato.

    "Eu sou do futebol. Acho que o teatro tem que levantar a galera. Melhor que isso, só beijo na boca", diz Patrícia Gasppar.

    VANYA E SONIA E MASHA E SPIKE
    QUANDO estreia nesta sexta (6); sex., 21h, sáb., 17h e 21h; dom., 17h
    ONDE Teatro Faap, r. Alagoas, 903, tel. (11) 3662-7232
    QUANTO R$ 100 (sex.) e R$ 120 (sáb. e dom.)
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos

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