O estacionamento do MIS (Museu da Imagem e do Som), no Jardim Europa, amanhecerá neste sábado (7) repleto de totens de baldes, bacias e cestos de plástico, comprados no Brás e cobertos por samambaias.

Trata-se do trabalho de paisagismo que o escritório Selvvva criou para "dar um verde" à Feira Plana, evento de venda de publicações independentes que ocupa o espaço neste fim de semana. Se parece improvisado, é porque é –como tudo mais na feira.

A Plana é a maior de mais de uma dezena de bazares do gênero que surgiram no país nos últimos anos e, embora se profissionalize ano a ano, mantém o jeitão informal desses eventos criados por editores independentes e artistas para vender zines e livros de arte.

Após saltar de 2.000 visitantes em 2013 para 12 mil em 2014 –num ano em que, vale ressalvar, coincidiu com as filas para a mostra de David Bowie no museu–, a Plana chega à terceira edição com 120 expositores e uma programação de debates sobre publicações fotográficas.

Junto com outras feiras, como a Tijuana, no Bom Retiro, a Livre, organizada pelo Sesc, e a Miolo(s), na Biblioteca Mário de Andrade, engrossa um calendário que profissionais que trabalham com arte impressa seguem à risca.

Desde 2013, os eventos se multiplicaram em outros Estados. Naquele ano surgiu, no Rio, a Pão de Forma, organizada pela editora Bolha e pelo espaço Comuna, e a Parada Gráfica, em Porto Alegre. Curitiba, Salvador, Belo Horizonte e Recife também vêm organizando as suas.

CIRCULAÇÃO
Com dificuldade de conseguir espaços em livrarias e de vender pela internet, editores e artistas dependem de eventos assim para fazer com que seus trabalhos circulem.

"Cerca de 80% do que vendo é nas feiras", afirma o designer Guilherme Falcão, 30, editor da Contra, que em 2014 participou de oito delas, no Brasil e no exterior. Estudioso desse cenário –inaugurará na Plana sua Escola Livre de design–, Falcão diz que as feiras ganharam força nos EUA e na Europa nos anos 2000.

"Com o avanço da tecnologia, do mimeógrafo para o xerox e o digital, o zine minguou nos anos 1990. Mas a internet ajudou a divulgar trabalhos de arte impressa." Para ele, o movimento tem a ver com uma "onda nostálgica" que incluiu um retorno aos discos de vinil e às fotografias com filme.

"Quando surgimos, quase não tinha editoras de arte impressa", diz a editora Ana Luiza Fonseca, 29, criadora da Tijuana, pioneira no Brasil. "Nossa primeira edição tinha 15 participantes. Colocávamos cinco artistas numa mesa e no final eles tinham virado uma editora", conta.

VENDAS
De uma feira voltada a livros de arte, a Tijuana passou a agregar também editoras de zines. A edição de agosto de 2014 teve 120 participantes.

Para a criadora da Plana, Bia Bittencourt, 30, editora de vídeo da TV Folha, as feiras não são só para artistas verem e serem vistos. Vende-se "loucamente". "Na primeira edição, ninguém sabia quantos livros levar. Faziam 30 cópias, vendiam tudo, colocavam plaquinha de 'sold out' e iam passear pela feira."

A Tijuana, cuja próxima edição será em agosto na Casa do Povo, no Bom Retiro, faz um levantamento anual das vendas na feira. Em 2012, editores diziam ter comercializado em média R$ 800 cada um em livros. Em 2014, R$ 2.000.

Crescer é um interesse e um problema –vide os problemas de circulação da Plana em 2014. "Não tenho noção espacial, foi confuso", diz Bia, que naquele ano fez a organização sozinha, com apoio do MIS e da Adidas. Para este, conseguiu mais de dez apoiadores, como o Instituto Goethe e a arquiteta Lena Cavalheiro –que promete ajudar a melhorar o fluxo.

	Editoria de arte/Folhapress
	CIRCUITO INDEPENDENTE Onde rolam feiras de publicações no país