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    Garotas muçulmanas têm seus véus puxados em Paris

    PEDRO DINIZ
    ENVIADO ESPECIAL A PARIS

    09/03/2015 03h03

    As ideias de liberdade, igualdade e fraternidade que flamejam na bandeira francesa não andam muito em voga nas ruas de Paris. Pelo menos para as mulheres de origem muçulmana.

    Desde que dois membros do Estado Islâmico mataram 12 pessoas após invadirem o jornal "Charlie Hebdo", em janeiro, a vida dessas jovens não é mais a mesma. Nos metrôs e no lado oeste da cidade, longe dos bairros de imigrantes islâmicos, elas sofrem ataques e retaliações por usarem os véus tradicionais de sua religião.

    A estudante Marwa Daabak, 24, teve o véu puxado quando saia do metrô próximo à loja Printemps. "Foi angustiante. Eu não sou uma terrorista, apenas uma garota islâmica. As pessoas aqui em Paris mudaram muito depois de 'Charlie Hebdo'. A islamofobia está por todos os lados", desabafa.

    Pedro Diniz/Folhapress
    Após ter seu 'hijab' puxado no metrô, a estudante Marwa Daabak comprou mais 15 véus
    Após ter seu 'hijab' puxado no metrô, a estudante Marwa Daabak comprou mais 15 véus

    Após o incidente no metrô, Marwa diz ter comprado mais 15 véus para sua coleção de 120. "Eu amo usar meus véus. Todos os dias combino a cor da roupa com o 'hijab' [lenço curto, que cobre a cabeça e o colo]. Minhas amigas também estão comprando mais lenços após essas agressões que sofri. É um sentimento de reafirmação da nossa fé e do estilo também", diz a estudante.

    A mesma agressão aconteceu com a professora de pré-escola Kahina Kandi, 24. "Um homem puxou meu lenço dentro do metrô. Eu apenas segui em frente", conta.

    MAIOR VENDA

    No Dia Internacional da Mulher, comemorado no domingo (8), o vendedor Fuouzi Knouzi debatia com outro comerciante o aumento nas vendas dos véus.

    "Depois do atentado, muitas jovens de até 30 anos começaram a comprar mais os 'hijabs'. Só nesta semana, aumentou uns 10% as vendas dos véus", disse.

    "Minha única filha não usa, e não me importo com isso", diz Knouzi. "Muitos de nós, quando saímos dos nossos países, buscamos a liberdade, e não é isso que estamos encontrando."

    Usar o xador, véu mais longo e na altura do quadril, fez com que dez amigas da atendente de loja Aurelie Futol, 24, fossem xingadas na saída do metrô perto do museu do Louvre. "É apenas uma roupa, entende?", diz ela.

    Convertida ao islamismo há dois anos –seus pais são cristãos, oriundos da ilha de Reunião, no continente africano–, Aurelie conta que algumas mulheres continuam a usar o "niqab", roupa que cobre todo o corpo e deixa apenas os olhos à mostra, como protesto às retaliações. "Mesmo tendo que pagar por isso."

    A jovem se refere à multa de 150 euros imposta desde 2010 pelo governo francês a quem for flagrado usando o "niqab" ou a "burca", roupa que cobre todo o corpo, inclusive os olhos.

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