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    Crítica: Longa norueguês, 'Blind', complica roteiro sem necessidade

    CÁSSIO STARLING CARLOS
    CRÍTICO DA FOLHA

    10/03/2015 02h48

    Personagens cegos exercem sobre muitos cineastas um fascínio ao qual se mistura o desafio. Deficientes visuais costumam ser vítimas de psicopatas em filmes de suspense ou têm de se relacionar de outro modo com o espaço, enquanto representar a perda da visão exige soluções inventivas num meio tão visual como o cinema.

    "Blind", produção norueguesa premiada nos festivais de Sundance e Berlim, parte da ideia de restrição sensorial, mas pretende ir além da simulação, para o espectador, de medos e riscos.

    Sua vontade, parece, é amplificar a noção comum de deficiência e fazer perceber que o que se chama de cegueira é universal.

    Para isso, em seu primeiro trabalho na direção de longas, o roteirista Eskil Vogt joga com as expectativas e busca ultrapassar os estereótipos associados à impossibilidade de enxergar.

    Logo que Ingrid, jovem protagonista que perdeu a visão, aparece sozinha num apartamento, tateante e exposta a acidentes, aguardamos a entrada de uma ameaça.

    FALTAS

    A presença súbita de Einar, um homem com aparência desarrumada, no mesmo espaço introduz um falso suspense. O equívoco, porém, permite ampliar o sentido do termo "blind" (cego) que desloca a história para outros diversos modos da falta.

    Perdas afetivas, dependências eróticas, solidões e inseguranças são questões que se sucedem à medida que o filme apresenta Einar e, por meio dele, introduz outros personagens que se encadeiam em vínculos virtuais.

    Mesmo que todos estejam ao alcance da vista e onipresentes em telas de celular e computador, é raro se aproximarem e se perceberem em toques, abraços ou mesmo em conversas ao vivo.

    Entretanto, depois de expor de modo instigante sua premissa sobre os calabouços que isolam os indivíduos contemporâneos, o filme adota uma trama que obedece ao esquema dos conflitos.

    Para não parecer convencional, complica-se sem necessidade com uma trama dentro da trama e tenta reorganizar a lambança com um truque do tipo "tudo pode ser apenas obra da imaginação".

    Mania de roteirista que, numa encruzilhada, pega a direção que não chega a lugar nenhum.

    BLIND
    DIREÇÃO Eskil Vogt
    ELENCO Ellen Dorrit Petersen, Henrik Rafaelsen, Vera Vitali
    PRODUÇÃO Noruega, 2014, 18 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO regular

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