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    Crítica: Longa sobre perda de casal é a um só tempo maduro e superficial

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    13/03/2015 02h10

    "Dois Lados do Amor" surgiu como dois filmes sobre um casal que se separa após sofrer uma perda trágica: um mostrando o ponto de vista da mulher; outro, o do homem. O filme que chega agora ao Brasil é um terceiro produto, uma "mixagem" dos outros dois.

    Para o bem e para o mal, o resultado parece ser um filme que foi pensado e preparado de forma minuciosa e exaustiva.

    De positivo, isso significa que o resultado final tem uma maturidade que nos faz ignorar o fato de que o diretor-roteirista Ned Benson é um estreante em longas.

    Divulgação
    Cena do filme "Dois Lados do Amor"
    Cena do filme "Dois Lados do Amor"

    De negativo, há uma certa sensação de engessamento e de artificialidade, sobretudo nos diálogos do filme.

    Cada frase de cada personagem parece ter a obrigação de carregar um significado profundo, e é respondida por outro personagem com uma frase de igual sabedoria –o tipo de conversa perfeita que gostaríamos de ter na vida real, mas nunca conseguimos.

    Parte disso tem a ver com a gravidade do tema. "Dois Lados do Amor" é sobre um casal –Eleanor Rigby (Jessica Chastain) e Connor (James McAvoy)– que sofre a pior perda possível (revelada aos poucos pela trama).

    Ela tenta se matar, foge do marido, se esconde na casa dos pais e decide voltar a estudar. Ele tenta esquecer a dor, seguir a vida, reatar com a mulher e salvar o restaurante do qual é dono.

    Mas a outra parte da pompa e circunstância de "Dois Lados do Amor" tem a ver com as escolhas do diretor.

    Benson retrata dois seres devastados, mas que têm sempre uma frase inteligente na ponta da língua. E, nas poucas vezes que vão dizer algo banal, eles pedem desculpa antecipadamente, algo como: "sei que isso soa como um clichê, mas..."

    Os personagens têm pouco espaço para a incerteza e o silêncio –e o filme, para o risco. Por que, ainda assim, "Dois Lados do Amor" deixa a impressão de uma obra superior à média?

    A resposta tem nome e sobrenome: Jessica Chastain. Seu rosto tem ao mesmo tempo a densidade das grandes atrizes e a capacidade de iluminar a tela das grandes estrelas.

    Mesmo contracenando com mestres como Isabelle Huppert e William Hurt –nos papeis de seus pais– ou Viola Davis, Chastain é quem carrega nas costas o filme (do qual é também produtora).

    Uma atriz invulgar e atemporal –que pode ser imaginada em um filme de Ingmar Bergman ou Michelangelo Antonioni– e que consegue elevar a outro patamar obras contemporâneas como "A Árvore da Vida" (2011), "A Hora Mais Escura" (2012) e este "Dois Lados do Amor".

    DOIS LADOS DO AMOR
    (THE DISAPPEARANCE OF ELEANOR RIGBY: them)
    DIREÇÃO Ned Benson
    ELENCO Jessica Chastain, James McAvoy, Viola Davis
    PRODUÇÃO EUA, 2014, 14 anos
    QUANDO em cartaz
    AVALIAÇÃO bom

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